Sebastião Salgado em Porto Alegre

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Porto Alegre, na próxima quinta-feira, 13, irá inaugurar a exposição Genesis de Sebastião Salgado, na Usina do Gasômetro.

Dizer o quê sobre Sebastião salgado? Vá, olhe as fotos, e entre um universo de vida, reflexão, arte, e tudo o mais que a sua imaginação acolher.

Reflexo da sociedade?

Ao ler na imprensa que senadores e ex-parlamentares e suas famílias usufruem plano de saúde ilimitado e têm direito a despesas de R$ 25.998,00 por ano para tratamento odontológico, valores esses que entre 2008 e 2012 atingiram uma média de R$ 6,2 milhões/ano, e que podem, inclusive, acumular saldo, ou seja, se não usou em um ano dobra no seguinte e ainda antecipa outro ano o que pode gastar, conforme justificou um senador a respeito de seus gastos em pedido de ressarcimento de pouco mais de 62 mil reais em uma única vez, extrapolando o limite estabelecido, fico me perguntado, de forma ingênua, se esses procedimentos e “direitos” refletem os mesmos procedimentos e direitos que a sociedade brasileira possui?

Joaz Baez: lucidez e engajamento

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A presença de Joan Baez na América do Sul é emblemática. Traz muito da vida, do sentido, do porquê, do ativismo consequente, do talento, da sensibilidade. Momentos como os que vivemos podem ser comparados com a exclusiva e única década de sessenta? Não, impossível. Pelos adjetivos escritos linhas acima. São outros tempos. Outros sentidos, outros porquês, e, sobretudo, outras consequências. Em várias entrevistas, a cantora e compositora de folk, fala sobre muitas coisas. Sobre o seu cotidiano atual. Chama a atenção dois pontos: o primeiro a respeito de Bob Dylan, de quem foi namorada e grande impulsionadora de sua carreira: o seu relacionamento com ele é zero. O segundo, nunca mais haverá uma década como a dos anos sessenta onde surgiram Beatles, Rolling Stones, The Byrds, Joni Mitchell, Richie Havens, The Who, e tantos mais. Sua fala permite várias reflexões, uma delas é por onde caminhamos hoje. O que foi feito da magia e força daqueles anos que se diluíram aos poucos até este século XXI complexo e das redes sociais.

Joan esteve sempre na linha de frente. havia a Guerra do Vietnan, Martin Luther King, as canções que retratavam o protesto contra a opressão, contra a guerra genocida, contra o racismo. Estava vivendo para transformar a sociedade e seus costumes, para melhor. De alguma forma, o sentido e o porquê se entrelaçavam. Começou em 1959 no Newport Folk Festival e em seguida deslanchou pela América do Norte inteira. Ganhou o mundo. Sacralizou Woodstock. Sua apresentação à noite é daquelas de se guardar pela vida inteira, interpretando “Joe Hill”.  Era (e é) tão ligada ao folclore que gravou Villa-Lobos, gravou “Mulher rendeira”, gravou um disco inteiro em espanhol chamado Gracias a la vida. Não abandonou seus princípios. É a mesma e lúcida Joan Baez dos anos sessenta.

A presença dela, lançando seu disco Day after tomorrow, produzido pelo cantor e compositor Steve Earle, nos proporciona momentos únicos. Ela, que foi proibida de cantar no Brasil em 1981 por um fatigado regime militar, está aqui para nos fazer pensar. Para que os sentidos e os porquês tenham sentido e porquê. Para que possamos realmente transformar a sociedade atual em uma sociedade mais séria, mais comprometida, mais justa, mais humana, mais ética, mais íntegra. Ouvi-la é dar um passo à frente contra todos os tipos possíveis de violência.

http://www.youtube.com/watch?v=2M9urmuiREc

Foto: Marina Chavez

Glaciar Perito Moreno: geleira viva e fascinante

imageNa Patagônia argentina permanece avançando um dos raros glaciares do mundo: Perito Moreno. Em todo o seu esplendor de intensidade azul, domina quem debruça os olhos sobre ele. Invade a alma. Acelera o coração, o sangue flui nas veias. É uma das maravilhas da nossa América do Sul. Do outro lado do Parque Nacional Los Glaciares, o Chile. E nele, outras maravilhas: Torres del Paine impõe seja no verão ou no inverno. É uma região bela e densa em beleza, que precisa ser preservada. Se puder, vá. Sem medo de se emocionar.

Fotos: Chronosfer. A primeira foto, à esquerda de quem está olhando, bem acima, é Torres del Paine no lado chileno da Patagônia, também em toda a sua força e paz e, sobretudo, harmonia. Inesquecível.

David Gilmour: Live in Gdansk

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Para o final de domingo, início de semana, o show de David Gilmour Live in Gdansk é algo extraordinário e capaz de elevar o espírito. O talento, a sensibilidade de um Pink Floyd, tocando basicamente o disco On an island com acompanhamento de orquestra filarmônica (The Baltic Philarmonic Symphony Orchestra regida por Zbigniew Preisner) é imperdível.

Acompanhado por Richard Wright nos teclados, Phil Manzanera na guitarra, Jon Carin nos teclados e programação, Guy Pratt no baixo e Steve Stanilau na bateria, todos também estão nos vocais, Gilmour exibe excelente forma e carisma, características desde o tempo do Pink Floyd, que está muito presente no show. Ouvi-lo é sempre um presente.

http://www.youtube.com/watch?v=yw3b0ESOwTs

Capa capturada na Internet.

Triste Brasil, corrupção, racismo e há quem defenda a impunidade

O racismo é uma lâmina afiada. Finca a carne, corta a alma. Atinge e respinga por todos os lados. Devasta a dignidade. Dilacera a sociedade. Impossível suportar a intolerância, a discriminação. O racismo está a olhos vistos em todos os lugares. O câncer brasileiro é visível. Transita pela impunidade. No tudo fica como está. Os episódios nos estádios de futebol, onde torcedores acobertados pelo manto da multidão, não são casos isolados. Há deputados que se valem do mesmo manto, não da multidão, mas da imunidade parlamentar para desafiar a legislação. (para quem não sabe a Lei 7.716 de 05 de janeiro de 1989 criminaliza o racismo) O deputado federal Luiz Carlos Heinze incorreu no artº 20 da Lei 7.716. O que diz o artigo: “Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional (redação dada pela Lei 9.459 de 15.05.1997). Pena: Reclusão de um a três anos e multa (redação pela mesma Lei)”. O que disse o deputado: “Agora eu quero dizer para vocês: o mesmo governo, seu Gilberto Carvalho também é ministro da presidenta Dilma, e é ali que estão aninhados quilombolas, índios, gays, lésbicas, tudo o que não presta, ali está aninhado e eles têm a direção e o comando do governo“. O que precisa para ser enquadrado na Lei? Possui foro privilegiado? Senhores deputados, senadores façam um favor à nação: abram mão da imunidade parlamentar para o caso que não seja o da defesa de ideias políticas, abram mão do foro privilegiado. Enfrentem como cidadãos comuns os crimes que por ventura cometerem. Não é Chronosfer que define o crime de racismo, é a Lei, apenas exige o seu cumprimento integral a todos. Os senhores não são representantes da sociedade? Então, se o editor do site cometer crime de racismo, será processado, podendo ser preso de um a três anos. Receber a delegação dos seus eleitores não confere a nenhum parlamentar a liberdade de quebrar as regras e as leis. Tal como legítimos representantes de quem os elegeu, que recebam as devidas penas previstas em lei todas as vezes em que forem feridas.

Na sua coluna em Zero Hora de 07 de março de 2014, o jornalista Diogo Olivier destaca como título A Barbárie. Refere-se ao relato feito pelo árbitro Márcio Chagas da Silva sobre o que sofreu no estacionamento do estádio Montanha dos Vinhedos em Bento Gonçalves. O jogador Arouca também foi alvo dessa barbárie. Olivier, lúcido e brilhante, diz: “A hora é de punir. Ultrapassamos todos os limites. O Esportivo tem de receber alguma punição. Perder os pontos da partida. Ou o mando de campo. É injusto com a esmagadora maioria de seus torcedores e com o próprio Esportivo, que nada têm a ver diretamente com os racistas que atacaram Márcio? Sim, é. Mas há outro jeito, seja qual for o clube, grande, médio ou pequeno? Se ficar por isso mesmo, aonde vamos parar? (grifo feito pelo editor)

“A barbárie chegou. Temos que lutar contra ela antes que seja tarde”. Posição corajosa, correta, consciente e lúcida de Diogo Olivier. Não pode haver concessões ao crime cometido.

E, para surpresa do site, ao ler matéria assinada por Pedro Ivo Almeira, do UOL, Rio de Janeiro, de 08 de março de 2014 sobre o racismo, vamos reproduzir o que foi dito por uma pessoa da mais alta relevância do País: “Isso (discussão intensa sobre o racismo) é uma bobagem. Estão dando ênfase a uma bobagem. Não devíamos nem debater isso. Não adianta punir, a solução é ignorar. Vocês (imprensa) não podem dar moral e ficar falando dessas pessoas. Este caso não tem solução, esses babacas nunca vão aprender”. E continua ao ser questionado sobre a importância do racismo no futebol, deixando claro que o melhor caminho é ignorar as pessoas que praticam atos preconceituosos no esporte. “Deixem esse assunto para lá, daqui a pouco todos esquecem e estas pessoas voltam para o cantinho delas”, completou. O título da matéria é “Não adianta punir os racistas. Babacas não aprendem”. (http://copadomundo.uol.com.br/noticias/redacao/2014/03/08/e-uma-bobagem-diz-felipao-sobre-discutir-racismo-no-futebol.htm)

O autor das afirmações é o senhor Luis Felipe Scolari, treinador da seleção brasileira. O mínimo que se pode esperar da presidência da CBF é sua demissão sumária. Não adianta dizer que está fora de contexto, que foi mal interpretado, ou algo do gênero. O senhor Scolari é uma referência nacional e internacional para deixar claro que discutir e punir o racismo não adianta. Se não conhece a Lei, fique quieto. Não basta o Brasil viver uma corrupção sistêmica, já com alguns conhecendo a cadeia, para que se deixe passar um crime que é considerado inafiançável e imprescritível.

Chronosfer deixa claro que não acusa os senhores Scolari e Heinze de racistas, mas lamenta profundamente suas manifestações, sendo a do primeiro bem clara na matéria reproduzida, e a do deputado passível de enquadramento legal pelo que afirmou, inclusive mais de uma vez.

Infelizmente, sim, o Diogo Olivier tem razão, estamos em plena barbárie e se nada for feito, não sabemos aonde iremos parar.

Chega de impunidade!

Abaixo, reprodução da matéria capturada no site do OUL.

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Pela paz na Ucrânia

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Nos dia de hoje, é intolerável que a disputa pelo poder gere assassinatos, quebre a soberania dos países, destrua o que há de melhor no ser humano. Nada justifica uma única morte. 77 perdas de vida é crime contra a humanidade. Rasgar tratados de paz é crime contra a humanidade. Ameaças de invasão, invadir, constranger, encurralar um povo, sua cultura, sua identidade é crime contra a humanidade.

Pela paz na Ucrânia.

http://www.youtube.com/watch?v=x6oLgX-Tzh4&hd=1

Foto: Chronosfer

La Mufa: tango à frente sem concessões

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Sem dúvida, o tango é um gênero universal. Mais, habita o imaginário não apenas do Rio da Prata, mas invade outros tantos universos seja de que lado for do planeta. Por vezes, e por muito tempo foi assim, discriminado por ser cantado em locais nada sacros, principalmente em suas origens lá de trás em fins do século 19, até ser quebrado o estigma por Carlos Gardel. No seu nascedouro, os prostíbulos, quebram-se a imagem de que o tango era triste, melancólico embora repleto de paixão. Ao contrário, por essa época a chegada de imigrantes de toda a Europa para ocupar postos de trabalho na Argentina, e sua frequência dos trabalhadores solitários em busca de prazer nas casas de prostituição mudou os costumes de então. Enquanto esperavam vez, os espaços eram ocupados por encenações musicais e danças sensuais. Dessas experiências musicais, ritmos como a polca europeia, a havanera cubana, o candombe uruguaio, a milonga espanhola, se mesclaram para nascer o tango. Primeiro como trio musical, instrumental apenas, mais tarde com letras igualmente sensuais, pouco a pouco a resistência a ele foi sendo atingido até que penetrou de vez os salões de festa, Gardel estourou no mundo inteiro a partir da chegada do ritmo à Europa.

Na segunda metade do século 20, Astor Piazzolla revoluciona de forma definitiva o tango. Como na juventude havia estudado nos Estados Unidos, ele, ao retornar ao Prata, trouxe na bagagem influências do jazz. E começa uma nova história.

Várias formações nascem, várias influências passam a exercer papel preponderante na execução do tango seja como ritmo seja como gênero.

Assim, do lado desse emblemático rio, o La Mufa é um diferencial estético e criativo no que ouso chamar de novo tango. Passando ao largo do tradicional, porém sem perder de vista o que foi construído pro Piazzolla e Aníbal Troilo, por exemplo, viaja para as décadas passadas com uma formação harmônica alicerçadas em uma sonoridade própria, mais seca, áspera talvez e com um equilíbrio extraordinário entre os instrumentos. Não por acaso, a formação é composta pelo clássico bandoneón, piano, violoncelo, contrabaixo e violino. Possuem um refinamento que não é preciosismo se não que refinamento musical essencial à composição. E também possuem outra característica única: o universo roqueiro está muito presente em suas interpretações. Esses pontos convergem não como modelo ou forma, mas como uma expressão natural de seus integrantes. Inova como o tango sempre inovou, sem perder a identidade. Donos de um repertório base em seus mestres e composições próprias, se revelam (re)criadores incansáveis. Há uma participação magnífica e muito especial em ” Soy muchacho de la guardia ” dos Los Cigarros. La Mufa é mais que um alento, mais que uma promessa. É uma doce realidade que transcende a qualquer possibilidade de rotulá-los assim são ou assim não são. La Mufa faz tango com gana, com um quê de erudito, de jazz, de rock, de tudo um pouco e sobretudo, de La Mufa.

http://www.youtube.com/watch?v=urN-y5XNnJw

La Mufa Tango – Perro Andaluz Ediciones – 13 Faixas – 46min33s

Foto capturada na internet no site: http://www.lamufa.com‎

Hamilton de Holanda & Stefano Bollani: bandolim e piano virtuoses

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Se os últimos tempos sopram cruéis com as perdas de tantos músicos de talento e genialidade, devemos saudar quando também outros gênios se encontram e geram belíssimos trabalhos. As trajetórias de Stefano Bollani, piano, e Hamilton de Holanda, bandolim, estão presentes como isso mais que possível é uma feliz realidade. Com influências distintas um do outro, porém, com muitos pontos em comum, os instrumentos marcam presença através da inquietude de cada música, que são suas improvisações. O italiano Bollani, aos 40 anos, é um conceituado pianista de jazz. Requisitado por nomes que figuram em qualquer lista dos grades da música, como o trompetista Enrico Rava, ou então Chick Corea, possui vasto currículo e acrescente-se mais um: é apaixonada pela música popular brasileira. Hamilton de Holanda é um jovem carioca, criado em Brasília, é sem dúvida o maior bandolinista brasileiro. Seu bandolim de dez cordas é solicitado e sua verve como instrumentista se revela no número de discos gravados, beirando os 30. Todos com o toque mágico do seu talento, capaz de criar e recriar, reinventar canções com espontânea criatividade. Também está por todos os cantos do mundo, tocando, fazendo duetos, trios, quintetos, acompanhamentos, ou então solo.

Pois, a gravadora ECM lança o cd O que será ao vivo, em apresentação da dupla no festival Middelheim Jazz na Antuérpia, Holanda. As dez faixas voam na audição. É automático repeti-la. E repeti-la. Pura improvisação seja do piano ou do bandolim ou de ambos, composições como “Beatriz” (Edu Lobo/Chico Buarque), “Luiza” (Antonio Carlos Jobim), “Rosa” (Pixinguinha), “Canto de Ossanha” (Baden Powell/Vinicius de Mores), “Apanhei-te cavaquinho” (Ernesto Nazareth) e até mesmo uma surpreende “Oblivion” de Astor Piazzolla, além de composições próprias, mostram como se aproximam temas tão brasileiros do jazz e o jazz de temas tão brasileiros como o chorinho, por exemplo, sem deixar de lado a bossa nova. É um encontro em que as palavras são desnecessárias, rigorosamente desnecessárias.

Ao escutar Bollani/Holanda entende-se a razão de ambos serem músicos, instrumentistas, compositores únicos. Você que leu as linhas acima, não deixe de procurar qualquer disco dos dois ou de um e de outro solo ou com outros acompanhantes. Tê-los em seu player será motivo de alegria e esperança em tempos melhores.

http://www.youtube.com/watch?v=ZmCWt5R0ics

O que será – Stefano Bollani & Hamilton de Holanda – ECM – 10 faixas. 54m3s.

Foto: capturada na internet no site http://www.mimo.art.br/atracao-30-stefano-bollani-hamilton-de-holanda-italia-brasil