The Beach Boys, Brian Wilson, Pet Sounds, Love & Mercy…

Beach Boys

Se houve uma banda que superou os Beatles quando do seu auge, essa tem nome e identidade: The Beach Boys. Para muito além de tocar músicas dançantes de surfe ou hinos ao sol e romances à beira mar, Brian Wilson concebeu uma obra genial: Pet Sounds.Provocado por Rubber Soul, o sexto álbum dos Beatles mexeu com Wison naquele 1965. para ele, ali estava uma concepção de música. E a partir dessa “motivação” quebrou com estética dos Beach Boys e partiu para um trabalho nada convencional, e profundamente repleto de arranjos inovadores, transgressores para a época. 1966 acolheu Pet Sounds como um disco diferente no cenário pop e do rock. O público e a gravadora Capitol viraram às costas para as composições desafiadoras de Wilson. A crítica reconheceu em cada faixa o melhor disco do ano e um dos melhores de todos os tempos. E toda a concepção das canções está no filme biográfico de Wilson, Love & Mercy de Bill Pohlad, estrelado por Paul Dano (Brian quando no Beach Boys), John Cusack (fase adulta) e Elizabeth Banks. E para quem quer entrar um pouco mais no complexo mundo de Brian Wilson, o filme mostra os estágios de sua vida atormentada até o momento em que começa a ficar estável. Para quem quiser conhecer ou apenas ouvir o grupo que chegou a passar dos Beatles, veja o filme ou ouça Pet Sounds, de alguma ou de todas as formas estamos juntos nessa travessia de criatividade e de muito talento do compositor Brian Wilson também em seus trabalhos solos.

Stray Birds: Best Medicine

straybirds

Um trio harmônico. É o mínimo que se pode dizer de Maya de Vitry, Oliver Craven e Charlie Muench. Os dois primeiros, compositores e tocam desde a acustc guitar, passando pelo banjo, violino, e outros mais instrumentos. O terceiro, é o baixo acústico. E os três cantam. Neles, desde a sua união em Lancaster, na Pensilvânia, há uma conjunção de influências que nascem das mais simples e tradicional das músicas e passa por Beatles, The Band e chega ao virtuosismo de Jimi Hendrix. A soma disso tudo pode ser dissolvido em um country folk? Pode ser. Para eles, o rótulo é o que menos importa. Para nós, também. O que realmente importa é que os três juntos formam harmonias melódicas e vocais magníficas e envolventes. Suas composições tanto podem estar um século lá atrás como podem estar um à frente, quando, na verdade, estão bem presentes entre nós. E é este presente que se traduz em um estilo que atravessa fronteiras. Como deve ser a música.

Foto capturada no http://www.thesouthern.com

Uakti Beatles

uakti

Quase quarenta anos de atividades, o Uakti desde 1978 desenvolve um criativo e instigante trabalho de pesquisa e de criação de instrumentos com os mais variados materiais possíveis e mesmo impossíveis em nossos pensamentos. Uma vez construídos, estudam a fundo sua concepção e exploram ao extremos suas sonoridades, as técnicas mais adequadas para enfim serem tocados. O resultado é um universo sonoro singular e deslumbrante. A música instrumental brasileira possui um grupo catalizador de harmonias e texturas próprias. Não por acaso trabalham desde sempre com Milton Nascimento, por exemplo, acompanhando-o ou gravando composições do carioca-mineiro. também estiveram com Philip Glass em Águas da Amazônia, disco fantástico. Em 2012, lançaram Uakti Beatles. Em geral, não é novidade gravar o cancioneiro dos Beatles, há tantas a escolha de cada um à disposição. No entanto, o diferente são os instrumentos. As assinaturas de Lennon, McCartney e Harrison ganharam novos timbres, novas tessituras, novo alento, que passa bem distante do sentimento de heresia às suas obras. Claro, em meio a tantos instrumentos insólitos, guitarra, piano e flautas convencionais aparecem aqui e ali em meio a tubos de pvc, cabaças, apitos e marimbas, sem desvirtuar a ideia original. Um repertório de 16 faixas que faz com o encantamento se multiplique e se instale de vez dentro de nós. Um sim à vida.

Wes Montgomery, a guitarra do jazz

8773154f4f824e1e7420ed3f212ea

A formação clássica do jazz tem tudo a ver com Wes Montgomery. O seu estilo, o seu jeito de tocar foi precursor e quem sabe único até então, e aqui fala-se em anos sessenta.Ainda que tenha se tornado guitarrista muito tarde, visto que perdeu a vida ao contrário, muito cedo, o autodidata não se valia da palheta para tirar das cordas a sonoridade que criava em seus solos fantásticos. Havia muita harmonia e melodias que fluíam de sua guitar tanto que que sua forma tão rica e pessoal se tornou referência para nomes como Pat Metheny e George Benson, por exemplo. Se não chegou a ser uma espécie de Miles Davis, que simplesmente fez rupturas com o jazz, Wes trouxe ao gênero toda uma fluidez e liberdade de criação para além das improvisações que caracterizam tão bem os jazzistas. Suas melodias soam, cada vez que se escuta, com uma límpida e cristalina suavidade que envolve sentimentos e é impossível não se parar em silêncio e se deixar levar por suas interpretações. Montgomery foi tão extraordinário que gravou Beatles, de forma insinuante e bela.Tornou famosa a formação do Trio Montgomery formado por sua guitarra, um órgão Hammond e bateria, isso em 1959. Sem dúvida, um precursor que viveu e aprendeu e tocou com os grandes como Leonel Hampton, John Coltrane o que por si já revela o quanto maiúsculo foi como compositor e instrumentista. A morte prematura, com pouco mais de quarenta anos, traído pelo coração, deixou uma lacuna que ainda não foi preenchida. Talvez jamais será. O jazz com Montgomery tem uma conotação que somente quem escuta com a alma pode sentir.

George Harrison: beatle não beatle

george

Escrever sobre os Beatles não é algo que tenha a pretensão ou mesmo invadir esse espaço tão rico e complexo que os quatro de Liverpool criaram. Até porque já há publicações, teses, e uma quantidade incrível de ensaios, artigos a respeito que eu, apenas um admirador, pouco ou nada tenho a meu favor para escrever. Nada impede, no entanto, que possa expressar minha escolha pelo beatle favorito: George Harrison. Talvez tenha sido ele o único que seguiu mesmo como integrante do grupo o seu próprio caminho. Dos quatro, a partir da sua dissolução em fins de 69 e início de 70, alçou o voo mais alto carreira solo. É verdade que de altos e baixos, sendo os baixos mais altos que se poderia desejar e os altos tão baixos que ficam por vezes submersos, tendo acima as obras de Lennon e McCartney. Com All Things Must Pass o primeiro da safra pós-Beatles colocou seu disco entre os maiores da história do rock. E as canções do álbum foram criadas na época em que era o guitarrista dos Beatles. Como cada um partiu para seus caminhos, logo ficou evidenciado, e hoje ainda mais, que Paul continua sendo beatle. Não poderia ser diferente. E não é crítica, ao contrário. John tinha a sua maneira de ver a vida e o mundo e a realidade, mas seus discos em geral, excluindo quem sabe Mind Games e Live in Toronto, de 69, com a Plastic Ono Band, com quem gravaria Imagine, produziu não muito além do que se esperava dele. Algumas composições brilhantes, e outras na média. Nada além, o que também não significa crítica. E Ringo, bom Ringo é Ringo e ponto. A química existia entre os quatro, solos nem tanto. Harrison partiu desde cedo para trajetória muito pessoal. Ousado, acredito ser ele o beatle mais ousado, já criara trabalhos experimentais, já se “misturara” com outros músicos como Eric Clapton, Ginger Baker, Bob Dylan. Não por acaso é dele a concepção do Concerto para Bangladesh, o primeiro a coletar fundos com objetivo social e humanitário. Suas composições já estavam amadurecidas. “Here comes the sun”, que fora gravada pelos Beatles, ganha um toque mágico com os violões de George e Pete Ham, esse do Badfinger. “Something”, era impressionante em suas linhas harmônicas que levou Frank Sinatra a tê-la em seu repertório e cometer a gafe e dizer que era da lavra de Lennon&McCartney. É no seu disco de estreia que revela em definitivo sua capacidade criativa e de encontros. Canções inesquecíveis e que soam mais que atuais. A bela “Behind that locked door”, a dylaniana “If not for you”, a Harrison “My sweet Lord”,  as sessões com uma gama infinita de artistas em um dos lados do álbum triplo no original não deixa a menor dúvida: George foi um beatle que não era beatle. Sua maneira simples e tranquila e inquietante introduziu a cítara, os solos marcantes do início ao fim de canções, a suavidade e a pegada das suas produções como “I need you”. Escrevo e no player George ocupa o espaço. Preciso mais? Sim, apertar a tecla do repeat.

Bee Gees em Woodstock

BGJanis W

Não, não se assustem. Os Bee Gees não estiveram em Woodstock. Pelo menos, não consta o nome na lista oficial. E nem nas curiosidades sobre o festival. Porém, assim como Joe Cocker incensou as mais de 500 mil pessoas com “With a little help from my friends” cuja assinatura é de Lennon&McCartney, os irmãos Gibb – Barry, Robin e Maurice – também tiveram o seu momento. Janis Joplin interpretou “To love somebody” com sua voz envolta de blues e soul. Porém, assim como os Beatles são lembrados pela deslumbrante performance no documentário, Joplin não está presente com nenhuma canção. Somente a partir da comemoração dos 40 anos do maior festival de todos os tempos é que muitas novidades chegaram. Uma delas é o lançamento de alguns cds solo de quem participou do encontro: Janis Joplin, Johnny Winter acompanhado de Edgar Winter e Jefferson Airplane, entre outros sob o selo Sony BMG e Legacy Recordings. (A Universal fez o mesmo com Jimi Hendrix em 1999)

Janis havia lançado, à época, um disco chamado I got dem ol´Kosmic Blues again Mama! Oito canções viscerais, bem ao seu estilo. Alma pura. Na quinta faixa do então vinil, uma surpresa: “To love somebody”. Autores: Barry e Robin Gibb. Assim como na lista de canções que interpretou em Woodstock ela está presente também aparece em meio a tantos blues e soul.

Agora, passado tanto tempo, ao assistir um dvd do grupo inglês, que se tornou conhecido como australiano, Barry conta que haviam composto a canção para Otis Redding gravar. Antes, porém, o cantor foi vítima de acidente aéreo. Gravaram e foi sucesso imediato. Esteve em trilha sonora do filme Melody, dirigido por Waris Hussein, onde também figura em uma das faixas “Teach your children” com Crosby, Stills, Nash & Young. Esses sim, lá estiveram.

Na verdade, segundo o mais velho dos irmãos Gibb, a música é puro soul e R&B. Entrou no repertório como uma luva para uma cantora como Janis. Woodstock foi um momento mágico. Em todos os sentidos. Outras gravações tornaram a composição ainda mais popular: Nina Simone, Michael Bolton, The Animals, Roberta Flack, Eagle Eye Cherry e Rod Stewart figuram na longa lista de intérpretes.

Interessante ouvir as canções dos Bee Gees para além do pop romântico dos anos sessenta ou a dancing music dos setenta. Muito do talento e harmonia ficaram escondidas por esses rótulos. Confira as interpretações de Janis Joplin e dos Bee Gees para “To love somebody” no You Tube.

Reproduções capturadas na internet. 1 – Bee Gees em sua formação original dos anos 60 2 – Capa do disco de Janis Joplin em Woodstock.

Joaz Baez: lucidez e engajamento

Imagem

A presença de Joan Baez na América do Sul é emblemática. Traz muito da vida, do sentido, do porquê, do ativismo consequente, do talento, da sensibilidade. Momentos como os que vivemos podem ser comparados com a exclusiva e única década de sessenta? Não, impossível. Pelos adjetivos escritos linhas acima. São outros tempos. Outros sentidos, outros porquês, e, sobretudo, outras consequências. Em várias entrevistas, a cantora e compositora de folk, fala sobre muitas coisas. Sobre o seu cotidiano atual. Chama a atenção dois pontos: o primeiro a respeito de Bob Dylan, de quem foi namorada e grande impulsionadora de sua carreira: o seu relacionamento com ele é zero. O segundo, nunca mais haverá uma década como a dos anos sessenta onde surgiram Beatles, Rolling Stones, The Byrds, Joni Mitchell, Richie Havens, The Who, e tantos mais. Sua fala permite várias reflexões, uma delas é por onde caminhamos hoje. O que foi feito da magia e força daqueles anos que se diluíram aos poucos até este século XXI complexo e das redes sociais.

Joan esteve sempre na linha de frente. havia a Guerra do Vietnan, Martin Luther King, as canções que retratavam o protesto contra a opressão, contra a guerra genocida, contra o racismo. Estava vivendo para transformar a sociedade e seus costumes, para melhor. De alguma forma, o sentido e o porquê se entrelaçavam. Começou em 1959 no Newport Folk Festival e em seguida deslanchou pela América do Norte inteira. Ganhou o mundo. Sacralizou Woodstock. Sua apresentação à noite é daquelas de se guardar pela vida inteira, interpretando “Joe Hill”.  Era (e é) tão ligada ao folclore que gravou Villa-Lobos, gravou “Mulher rendeira”, gravou um disco inteiro em espanhol chamado Gracias a la vida. Não abandonou seus princípios. É a mesma e lúcida Joan Baez dos anos sessenta.

A presença dela, lançando seu disco Day after tomorrow, produzido pelo cantor e compositor Steve Earle, nos proporciona momentos únicos. Ela, que foi proibida de cantar no Brasil em 1981 por um fatigado regime militar, está aqui para nos fazer pensar. Para que os sentidos e os porquês tenham sentido e porquê. Para que possamos realmente transformar a sociedade atual em uma sociedade mais séria, mais comprometida, mais justa, mais humana, mais ética, mais íntegra. Ouvi-la é dar um passo à frente contra todos os tipos possíveis de violência.

http://www.youtube.com/watch?v=2M9urmuiREc

Foto: Marina Chavez