Bruce Springsteen, The Boss, é mais que um nome solto entre as paredes do rock. Ainda que por muitos considerado um patriota assumido, suas canções e letras avançam em sentido oposto. Alçado ao topo da escala do rock n´roll, fez álbuns marcantes com gosto de folk, solidão, melancolia e interioridade: Nebraska, The Rising, Devils & Dust ou, ainda, The ghost of Tom Joad, que também aceleram o que pensa e sente sobre a guerra. Uma passagem pelo tempo de Bruce é uma passagem pela vida e suas possibilidade também a partir de nós mesmos.
os desplugados/Unplugged são maravilhosos. Nirvana, Neil Young, Rod Stewart que o digam. O da banda do Kurt Cobain talvez lidere, seja o melhor de toda a série. The Cure abraça os violões, o violino, as cordas e faz do do seu rocl alternativo, do seu pós-punk, do seu gótico e new wave uma coleção de belas canções. Um disco sem dúvida marcante por tudo. E pela ousada criatividade do Cure.
Dois discos, duas homenagens. A Literatura, romance, poesia, qualquer que seja o seu gênero, são companheiras. Sempre. Como a música. Linguagens que se complementam. Linguagens que expressam o que somos, o que fomos, o que seremos. Vidas que se encontram. Olivia Hime e o seu belo e definitivo Estrela da vida inteira com a obra de Manuel Bandeira. Carla Bruni traz em seu No promises o vigor da poesia de Yeats, Emily Dickinson, Christina Rossetti, Walter de La Mare, Dorothy Parker, e W. H. Auden. Cada um com proposta semelhante, forma e estéticas distintas. Trabalhos que passam longe da crítica. São poesias. São Literatura. São música. São pedaços de nós mesmos.
A Nova Zelândia diz presente ao universo Índie. E a fusão com o country alternativo, nuances de rock progressivo e vocais bem harmoniosos, sonoridades também etéreas. Se nada de novo sacode as terras do outro lado do mundo, há no entanto bem alicerçadas texturas tranquilas de sons e vozes se entrelaçando em um gênero chamado neopsicodelia. Ao ouvir com calma e sossego Buffalo e Fandango, dois de seus discos, você poderá encontrar várias faces – ou nenhuma – de um trabalho que sim mescla gêneros e descobre seu denominador comum nas harmonias bem conduzidas em arranjos que flutuam sobre entre o sonho e a realidade. Vale ouvi-los.
Desde algum tempo as gravadoras buscam gravações demos, esquecidas, perdidas ou mesmo descartadas em sessões oficiais para um espécie de recuperação da memória. Às vezes funciona, outras nem tanto. São materiais em estado cru, longe de estarem prontos, porém indicam seus caminhos futuros dentro das faixas de um disco. George Harrison tem o seu Early Takes Vol 1 onde suas canções estão em estado acústico, quase incólume ao que seriam mais tarde. A maioria é do seu clássico All Things Must Past, boa parte dele composto quando ainda beatle. É quem sabe sua melhor fase. As outras canções percorrem também os anos 70 e duas delas incursionam pelo universo folk/eletrificado de Bob Dylan, com direito a parceria e cover. São discos como o de Harrison que balizam uma caminhada. O resultado final começa por esse passo. E por isso, independente de tudo, tem o seu encanto e fascínio. É um bom disco.
É difícil encontrar um disco de Graham Nash ou David Crosby ou Stephen Stills sem que um ou outro esteja junto. E ainda não se pode esquecer de Neil Young. Quantas vezes o CSN ou CN ou CSN&Y e mesmo o The Hollies entraram em nossas casas e se hospedaram por tempo infinito? Agora, Nash parte para um trabalho solo em que seus antigos companheiros de jornada ficam para trás, no passado. This path tonight avança em um território que é a característica de GN: a doçura e também altas doses de otimismo, de esperança. Olhar o futuro não é nenhuma aventura e ao esvaziar a antiga bagagem para pôr uma nova em seu lugar, o espaço cabe muito bem para o que necessita nessa caminhada. É um disco equilibrado, disposto, denso e bonito. Bom de se ter em nossa própria bagagem. O retorno à estrada de Graham Nash é muito bem-vinda.
“Sempre quis realizar um trabalho que sintetizasse o meu lado compositor e os anos dedicados a desenvolver, sem sentir, uma técnica para o bandolim de 10 cordas. Caprichos são 24 temas, como poesias de notas musicais, canções instrumentais, que permitem contemplar o deleite dos ouvidos e simultaneamente o comprometimento dos dedos afiados. ”
Hamilton de Holanda, na apresentação do disco. Ao seu lado, Guto Wirtti, Thiago da Serrinha, Rogério Caetano, Alessandro Kramer, André Vasconcellos, André Mehmari, Rafael dos Anjos, Gabriel Grossi, alternando-se entre as faixas. Um álbum duplo extraordinário. Visitem o site hamiltondeholanda.com e tenham mais surpresas, em especial com o disco Pelo Brasil.
O indie rock comporta tantas vertentes e possibilidades. O Cousteau trilhou o caminho das harmonias bem construídas, sofisticadas, vocais ternos, melancólicos por vezes e com um jeito quase folk e um pop bem definido em suas texturas e acordes. Donos de influências marcantes como David Bowie ou Burt Bacharach, Nick Cave, já demonstra a densidade do seu trabalho. Como muitas ou a maioria das bandas, as gravações de demos foram reunidas em um álbum em 1998 pelo selo Global Warming com Cousteau. A repercussão positiva fez com que novos voos fossem dados e Nova Scotia veio a seguir também repleto de críticas aletas e animadoras. Todavia, em 2005 param até que Liam McKahey e Davey Ray Moor retomam o projeto em 2015. As suas canções possuem dramaticidade, força e são ao mesmo tempo encantadoras.
Os britânicos do Keane não são revolucionários. Fazem um rock alternativo palatável e por vezes ultrapassam os limites e criam canções que recepcionamos com entusiasmo. Talvez tenha sido até então – 2012 – o álbum que melhor sintetizou a relação entre a poesia, o lirismo com melodias mais complexas, valendo-se em especial do piano como instrumento protagonista. As críticas, divididas, acentuam suas nuances e variações, porém alertam que as doze canções do disco lançado não trazem nada de novo e para outros estão na chamada “zona de conforto”. Se Strangeland acentua isso, por certo também apresenta passagens que podem ser classificadas como experimentais o que por só já é um feito. O Keane faz música sem medo, afinal sua bagagem de influências é invejável e diversificada: Beatles, Oasis, REM, Smiths, U2, Queen, Ramones, Paul Simon, e muito mais. Uma bagagem e tanto. E a textura musical? Bom, melhor é ouvir e juntar esses pontos todos.
Abril abre suas portas e já em dias bem alentados acolhe texto generoso do violonista e jornalista argentino Marcelo Fébula, que todos os meses bate ponto neste espaço. Ao amigo do Prata de Buenos Aires, sempre presente, o abraço e o muito obrigado deste lado do Guaíba de Porto Alegre.
Ciro Pérez
Às vezes os músicos alcançam grandes objetivos profissionais no inicio de sua carreira. Alguns deles ficam ai, detenidos, com prestigio e dinheiro assegurados e sim vontade arriscar nada artística ou economicamente. Mas outros continuam o caminho, pensando sua realidade só como uma instância, e não como um ponto final.
Um exemplo notável é o de Astor Piazzolla. Sendo quase um menino alcançou um objetivo “de máxima” que outros músicos poderiam demorar toda uma vida em conseguir: ser integrante de uma das orquestras de tango mais populares e com mais qualidade: a de Aníbal Troilo (e não um simples integrante, pois também era capaz de suplantar ao primeiro bandoneón do diretor e fazer arranjos orquestrais). Porém, o Astor um dia considerou que sua etapa dentro da orquestra estava finalizada, e buscou novos horizontes.
Salvando as distancias, o caso do violonista uruguaio Ciro Pérez é o mesmo. Havendo alcançado o posto de primeiro violão no quarteto que acompanhava ao gigante Alfredo Zitarrosa, um dia deixou aquele espaço extraordinário e cruzou o Rio de la Plata para tocar com o Mestre Roberto Grela, figura fundamental do tango, ponto de referencia obrigatório no violão da música popular argentina.
Mas tampouco esse espaço foi seu “objetivo de máxima”. Depois de integrar um tempo os conjuntos de Grela e registrar um disco antológico (dez gravações em duo de violãos com ele), colocou a proa em direção a Europa, terra onde reside há muitos anos.
Dentro dos muitos trabalhos e projetos desarrolhados no velho continente, aqui uma pequena mostra da mestria do grande Ciro Pérez. Neste caso, tocando tango junto ao bandoneonista William Sabatier e o violonista Norberto Pedreira