Yamandu Costa: Concerto de Fronteira

concerto

Dizer que Yamandu Costa é um gênio ao violão é ser redundante e repetir clichê. Sua obra é magnífica, e ainda jovem continua inquieto e denso em suas criações e leituras de outros mestres. Concerto de Fronteira conjuga tempos distintos e compositores que viveram intensamente momentos da história. Hermínio Gimenez e José Asunción Flores são compositores da nossa América dos mais importantes. Integraram orquestrações aos violões e através de suas composições passaram para o público suas vivências na Guerra do Chaco (guerra entre Paragua  Bolívia na década de trinta passada). nelas, esse universa ganha dimensão de vida. E em 2014, junto com o regente Leandro Carvalho à frente da Orquestra do Estado do Mato Grosso e com a violonista Elodie Bouny, Yamandu juntos peças de ambos compositores às suas, as de Piazzolla e criaram um momento único em beleza, densidade e sobretudo um verde que vive em nossas terras e sonoridades. Um concerto fascinante e profundo.

 

 

 

Paul Simon: Graceland

Graceland

A década de oitenta por certo foi complexa e de muitas surpresas. Em todas as áreas no mundo inteiro. Há quem afirme que foram anos perdidos. Talvez. Paul Simon saiu do folk tradicional que era sua marca registrada e seguiu por um caminho mais árduo e nem por isso menos instigante e criativo. Ao partir à África do Sul, Simon reencontrou o seu próprio caminho. E, junto, quebrou o boicote cultural que o país africano sofria e, como consequência, traçou novos horizontes m seu futuro. Quem sabe de ambos. Músicos extraordinários se juntaram a ele. Ladysmith, Black Mambazo e Tao Ea Matsekha e Paul uniram o folk e tradicional sul-africano Mbaqanga em um único e envolvente ritmo.  As estruturas melódicas da pátria do outro lado do continente traziam, com espantosa naturalidade, semelhanças com o R&B norte-americano e com as suas composições que penetravam o universo pop. A conjunção dos ritmos trouxe um resultado ainda mais extraordinário. Os cantos, as linhas do baixo dançantes, os lamento característicos, as guitarras e o acordeom integrados criaram um mapa de viagem de ida e volta entre as culturas de lá e a de cá. um disco por tudo emblemático, precursor, que lançava o olhar à frente, distanciando de vez o preconceito, e abraçava com humanismo as gentes de todos os lugares.

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Turfe: As primeiras vitórias clássicas

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Para os que estão chegando aqui, para os que passam e seguem o seu caminho: todos os dias 26 de cada mês este espaço é dedicado à preservação da história do meu pai, que partiu em 26 de abril de 2014. Uma trajetória de vitórias e derrotas, sobretudo de muitas vidas em cada uma delas, e que hoje, mais um dia 26 repleto de saudade, ocupa o branco da tela com suas primeiras provas clássicas disputadas.

1948

Nos anos quarenta do século passado, os programas realizados no saudoso e carismático pradinho dos Moinhos de Vento se resumia a duas reuniões: sábados e domingos. Às vezes, apenas aos domingos. E a equipe de jóqueis da época era dos melhores do Brasil. Pouco tempo depois de deixar para trás a categoria de aprendiz, Mário Rossano passou a frequentar o programa oficial, incluindo as provas clássicas. Em 1948, poucos dias antes de completar 17 anos, sob a monta do uruguaio Ibagé, no Prêmio Consolação, tradicional clássicos disputados entre os perdedores dos GPs Protetora do Turfe e Bento Gonçalves, conduziu o alazão ao vencedor, chegando à frente de nomes consagrados como o “Gigante” Ganganelli Cunha, Eldi Rocha, Leonel Pereira e Francisco Xavier. O filho de Socorro em Mala Racha, de propriedade do Stud Cruz de Lorena, do Dr. Augusto Maria Sisson, percorreu a distância de 2.500 metros em 166s e 3/5.

1949

No ano seguinte, 1949, o calendário turfístico marcava para maio o Prêmio Assembleia Legislativa. Assumiu o compromisso com o tordilho Albornoz, também do Stud Cruz de Lorena. os 1.500 metros foram vencidos em final apertado, justo e revelava o talento de um jovem promissor com seus 17 anos completados. A vitória sobre os mestres Armando Rosa, Dario Moreira – que foram sucesso no Rio de janeiro, no Hipódromo da Gávea – Ganganelli Cunha, o jovem Armando Reyna e Eldi Rocha marcou definitivamente o seu nome entre os grandes de Porto Alegre. O resultado foi que mais adiante, no início dos anos 50, foi para a Gávea, disputou grandes prêmios, retornou, venceu estatística em Porto Alegre e seguiu sua trajetória. Uma história feita com vitórias e derrotas e, sobretudo, com ensinamentos.

Zaz: Recto Verso

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A francesa busca na canção tradicional o seu repertório. Mescla com o jazz. E alça voos e flertes com o blues e o R&B mais contemporâneo. E o resultado mostra Zaz em sintonia com os novos tempos. Ou com o que se faz hoje em dia: perdas aqui, ganhos ali. Todavia, é inegável o sua capacidade de avançar em terrenos consagrados e deixar sua âncora fixada. A sonoridade se conjuga com a voz, há integração entre os gêneros e o resultado é tranquilo e sereno e transforma o tempo em bons momentos. Isabelle Geoffroy, seu nome original, mira também outros gêneros: a música brasileira, os ritmos latinos, a étnica. Sua versatilidade e talento comportam cantar Paris e o mundo.

Trio Bolerinho: o novo na MPB

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Luísa Toller, piano e voz, Marina Beraldo Bastos, flauta e voz, e  Maria Beraldo Bastos, clarinete, pandeiro e voz, trazem oxigênio renovado à música popular brasileira. O trio desvenda ou desbrava o novo em nosso cancioneiro, criando com seus ousados e criativos arranjos para voz e instrumentais inusitados o novo sem medo. A experiência adquirida através de acompanhamentos especiais com Arrigo Barnabé, Carlinhos Antunes e seu Quinteto Mundano e Paulo Tatit deu a elas o lastro para alçarem o voo essencial. Ao visitarem com roupagem diferente o cancioneiro popular e composições de consagrados como Milton Nascimento e Chico Buarque, as texturas do Bolerinho ganhou forma e estéticas próprias no cenário brasileiro. A essência instrumental bem desenvolvida e com a característica já mencionada da ousadia permitem que seu trabalho seja único e de identidade assumida. Uma viagem sonora e vocal que não apenas vale bilhete de retorno como nos dá a esperança na renovação e quebra da mesmice que por vezes impera em nossa música. Trio Bolerinho, para não ser esquecido.

Katia Guerreiro: Fado Maior

 

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Um nome que ultrapassa qualquer fronteira. Nascida na África do Sul, criada nos Açores, estudos em Lisboa, trabalho em outras cidades. Uma vida que abraça a diversidade e a cultura com intensidade. E entre ser médica e fadista, escolhe ser ambas. Fado Maior seu primeiro passo em 2001 é uma mostra densa da sua qualidade. Ainda que sua influência passe por Amália Rodrigues – bela referência – é com os contemporâneos que Katia faz sua travessia. Autores e letras de escritores como Antônio Lobo Antunes ou os consagrados Fernando Pessoa e Sophia de Mello Breyner Andersen são constantes em sua obra como cantora. Ao lançar Nas mãos do Fado dois anos após a estreia, sua influência maior é Dulce Pontes, cristalizada em Tudo ou Nada em 2005. Mais adiante, inicia a carreira como autora e o parceiro é Rui Veloso. Katia Guerreiro é um fadista que envolve, que abraça que a ouve, que não perde de vista a tradição e o novo em perfeita sincronia com os dias de hoje. E tê-la assim próxima, é ter suas texturas entrelaçadas em nossa sensibilidade.

Antonio Carlos Gomes BELCHIOR Fontenelle Fernandes

Belchior

O nome aristocrático do cearense de Sobral flutua em nosso imaginário. No noticiário desde a década de setenta, quando junto com outros artistas do seu estado, como Ednardo, Fagner, surgiu para o Brasil como Pessoal do Ceará, o ex-estudante de Medicina marcou gerações com seu canto e sua poesia. O nosso país é muito rico também em movimentos musicais: Bossa Nova, Tropicália, Clube da Esquina, Jovem Guarda, Movimento Artístico Universitário, Música Popular Gaúcha, para citar alguns deles. Nomes? João Bosco, Aldir Blanc, Milton Nascimento, Lô Borges, Beto Guedes, Ivan Lins, Rita Lee, Gal Costa, Maria Bethânia, Bebeto Alves, Nei Lisboa e uma infinidade de outros grandes da nossa música. Belchior traduziu com seus versos a dura realidade brasileira e do nordestino que desce para o Sul. Naqueles anos setenta e oitenta, sua voz recitando as composições de sua assinatura são mais que quadros guardados na parede da memória. Capaz de ser lírico e realista, sua sensibilidade trouxe a ideia do menestrel e do sonhador sem jamais perder de vista a realidade social e política daqueles anos. Seus clássicos são atuais e talvez por isso o seu “desaparecimento” é perguntado todos os dias. Por onde anda Belchior? Espero que tenha posto uma velha roupa colorida, com os dedos em V e depois de descobrir que o sol não é tão bonito para quem vem do Norte e vai dormir na rua, tenha encontrado um coração selvagem para repousar do cinza da cidade grande.

 

 

Traveling Wilburys: Vol.1 & Vol.3

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Se você entrar em uma loja de discos, encontrar um sem foto de capa, e com esses nome Nelson, Lefty, Otis, Charlie T. W. Jr. e Lucky ou Spike, Clayton, Muddy e Boo todos Wibury, com certeza não compra. Mas, se você souber que Nelson é George Harrison, Lefty é Roy Orbison, Otis é Jeff Lynne, Charlie é Tom Petty e Lucky é Bob Dylan ou ainda Spike e George são a mesma pessoa assim como Clayton, Muddy e Boo são Jeff, Tom e Dylan, o disco vai parar em sua coleção na hora. E tudo isso começou com a gravação do single do álbum Cloud Nine do Harrison, em 1988. Juntos, a química foi perfeita a ponto de continuarem com a brincadeira e formaram o Traveling Wilburys. O folk, o rock, o country e as leituras de cada um ganharam cores brilhantes. Cada um com seu jeito,  com a criatividade a milhões, produziram o suficiente para colocarem o Traveling entre os melhores. A morte de Roy, em dezembro de 88, fez com que gravassem ainda mais um disco, o Vol.3 embora pela ordem natural era o segundo registro do grupo. Mais tarde, no início dos anos 2000, e antes da partida de George, ele compilou o trabalho dos Traveling Wilburys, e para a nossa sorte, podemos encontrar seus discos. mais que uma recordação, a prova de que talentos juntos possuem um estado de criação envolvente e capaz de catalisar o universo musical dentro de nós.

Al Di Meola: Elysium

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Al Di Meola é mais que um guitarrista inovador quando apareceu na cena musical dos anos 70. De um criador incansável, ele continua o mesmo, e de técnicas que nasceram com o seu jeito de tocar, está ficando para trás. E em sua bagagem, que não é pequena, acumulou a experiência necessária para o salto de qualidade que possui e se renova a cada disco. Para quem fez ou faz companhia para nomes do calibre de Paco De Lucia (já falecido), John McLaughlin, Chick Corea, Stanley Clarke, Jean-Luc Ponty, Return to Forever, ou ter como parceiros também o russo Leonid Agutin, o italiano Andrea Parodi, a húngara Eszter Horgas, o tcheco Jan Hammer, o japonês Yutaka Kobayashi e gravar discos com composições de Astor Piazzolla (Meola Plays Piazzolla) e Beatles (All Your Life) apenas consolidam sua versatilidade em qualquer gênero para além do jazz e da fusão que é a sua marca. Elysium é um álbum latino em sua concepção. Claro, e isso é inevitável, com suas nuances jazzísticas. E é exatamente nesse vasto campo da criação que Di Meola transita alguns anos sem a agressividade do jovem e com a tranquilidade de um instrumentista maduro e no seu auge. As canções se entrelaçam com tanta naturalidade e expressão que qualquer uma que você escolha o fará feliz. A unidade do disco é toda ela costurada pelo multi-instrumentista, e por seus convidados de luxo, que o acompanham com  mesma pegada e ritmo. Um disco maravilhoso e indispensável.

Neil Young: Bluenote Café

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Neil Young é dono de uma versatilidade musical que o faz transitar entre o folk, o rock, o heavy e até mesmo o blues. Foi o que fez em 1987. Fez da sua Crazy Horze a Bluenote e mergulhou no universo do blues. A estadia nessas terras durou muito pouco. O suficiente para colecionar alguns shows, registrá-los e ficar naquela de algum dia pôr de novo na rua. É o que acontece agora. Bluenote Café é uma compilação de onze dos seus shows, sem uma ordem de data, e alguns exercícios de guitarra que oscilam entre o blues e o folk. A natureza de Young é inegável, o seu talento se associa a ela e o resultado é, embora possa parecer apenas uma mistura de tudo que havia feito até então, é muito bom. A base rítmica e harmônica garantida pela banda, deu ao canadense a solidez necessária para poder transformar algumas de suas canções em quase épicos recheados de riffs de guitarra, bem a seu gosto. Hoje, passado tanto tempo, soa tranquilo e mostra uma das tantas faces do cantor e compositor. Ousar sempre foi o seu verbo preferido. Por isso, Neil Young é Neil Young para todo o sempre, felizmente para nós.