Sinesi & Moguilevski: Sólo el río

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A música argentina é muito rica. Seja pelos gêneros que se espalham ao longo do seu território e regiões de fronteira, seja pela gama de influências recebidas como um algo mais e não como descaracterização da sua identidade. O violão (guitarra para os platinos) de Quique Sinesi e o clarine ou a flauta ou o sax de Marcelo Moguilevski assumem sua identidade e agregam esses elementos todos vindos de outras bandas. Sólo el río é um disco que transita pelo folclore, pelo tango, pelo clássico, pela música popular, jazz e recebem também quês de Egberto Gismonti e Ralph Towner, por exemplo. Ganha um sonoridade pura da Argentina, e passagens universais. Ambos exploram todas as possibilidades de seus instrumentos e de repente estamos dentro dessa rede infinita de sonoridades e harmonias. Um disco de ouro.

Eagles: Hell freezes ever

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Eagles sempre uma espécie, para mim, de um Crosby, Stills & Nash ou The Byrds logo abaixo, como o America. Nada mais injusto. Don Henley e Bernie Leadon com outros músicos, e ainda mais tarde o extraordinário Joe Walsh, cumpriram com talento seu papel no universo country-folk. Mesmo que devrvassem mais para o pop a partir do mega “Hotel California” e o rock que se instalou na banda fosse ficando para trás, há em Hell freezes over belas passagens e muita inspiração para artistas de vários outros gêneros. O DVD de Hell mostra muito a razão disso. Um passeio pelas nossas próprias raízes. Um pouco de Eagles para esse sábado de sol.

Uakti: Planetário

Planetário

Aqui, as composições do grupo criado por Marco Antonio Guimarães é acompanhado por Orquestra de Cordas e em “Sinfonia das Goteiras” a voz deslumbrante de Mônica Salmaso. Trajetória toda construída a partir de instrumentos próprios, conduzidos por Guimarães e ainda que que com as alterações que o tempo muitas vezes impõe, o Uakti segue seu curso como um rio. Em Planetário ingressa em terreno mais inóspito por que passa a humanidade. Em suas canções, há a esperança, a densa criatividade do ser humano a ser um construtor e não o contrário, a crença de que o poder é apenas uma ilusão que infelizmente destrói, mas que há, sobretudo, um ser que chama por viver a vida e que não é preciso guerra para a paz. Assim seja.

Aqui, uma matéria sobre o Uakti, e dois discos.

Enrico Pieranunzi Trio: Play Morricone

Enrico P. Trio

Alguns discos chegam, entram, se instalam e saem sem sequer serem ouvidos ou escutados com a atenção que merecem. Outros, fazem o mesmo itinerário porém permanecem em algum lugar escondidos, esquecidos até o dia em alguma janela se abra e lá está ele pronto para ser. Algo assim aconteceu comigo, melhor, acontece. Esqueço muitos discos. Não lembro onde os guardei, mesmo se os tenho. Ontem, quando o lugar chamado saudade me chamou, ao contrário de sempre levar tango, o meu desejo era de algo diferente, novo. Então, Enrico Pieranunzi, Marc Johnson e Joey Baron com o seu Play Morricone estava tão próximo que minhas mãos o alcançaram sem esforço algum. Direto para o player. Jazz com clássico, verdadeira fusão suave e profunda, sonoridades que capturam o sentimento mais intenso do ser humano. As teclas do piano deslizam em um verdadeiro mar de texturas que buscam outras texturas acompanhadas do baixo e da bateria. Não importa se em composições próprias ou se fazendo leituras ainda mais densas de outros compositores. O Trio abraça a vida através da música. E nós vamos juntos nesse abraço e na música.

Um lugar chamado saudade

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” Alguns povos mudam primeiro a maneira de sonhar para depois mudar o fazer. Um lugar é habitado e habitável quando dele se pode ter saudade, sempre e somente saudade.” Sérgio Luiz Metz, Assim na Terra

Para meus pais, cuja saudade é o lugar onde as horas envelhecem e me fazem mais dentro dele e somente dele para depois, na curva do tempo, amanhecer. hoje, quando mais mês atravessa esse tempo de partida, a vida é o lugar dos sonhos e do encontro. Na foto, meus pais, meus irmãos e eu.

 

Conto: Memória

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Não guarda descanso. Acumula silenciosa, ao longo dos invernos, as provisões para os dias sem sol. Guarda paciente o chamado escondido em algum porão da imagem. Não vive mais atenta, é despertada até ser esquecida. Como uma vertigem, troca de forma, penetra mais para dentro do dentro da chama até perder a intimidade. As distâncias e as idades desencontram-se em alguma parte do caminho e então tudo passa a ser sonho. Os sentidos são revistos, passados a limpo como um rito de passagem. Nesses dias, as estações balançam, encobrem suas ferrugens. O tempo não para e não há mais retorno. Os sinais chegam aos ossos, escorrem pela carne sentindo a ardência do sal. Os cascos continuam rebeldes. Os potros esticam a corda até encontrarem a liberdade. Nos pampas, a memória é uma morada abatida pelo vento. Talvez nessa quase noite quebre o silêncio e assim como veio desapareça, levando as palavras coaguladas do destino que coube viver. Os campos não são mais os mesmos. Apenas histórias que passam de voz em voz através das memórias e de seus tênues lumes sobreviventes.

Foto: Chronosfer

 

Conto: Outro Aleph

Eis que a palavra vem e vai através do Prata, percorre as águas do antes rio agora lago Guaíba e em algum momento – imaginário – se encontram. Aqui, neste pequeno Chronos, o imaginário é apenas isso, imaginário. O Marcelo Fébula, lá do Prata está por aqui sempre, realidade. O Chronos é aqui, realidade. (Mas, também é todo o mundo, outra realidade.) E a palavra do Marcelo aporta todo mês. Minha alfandega que é atrasada, quando nem deveria mais existir essa burocracia que apenas impede que possamos habitar todos os lugares sem fronteiras. Seu conto Final está fazendo muitos leitores. Outro Aleph desembarca neste instante. Todo para você que por aqui também aporta. A música lá no fim é por minha conta. E risco. Se não gostar, Marcelo, me diz que tiro. Aproveitem. O texto. E os dias que nos cabem.

Foto Marcelo Fébula

Outro Aleph

Buenos Aires continua ampliando as calçadas sensíveis para aumentar a capacidade de faturamento de seus bares. Trinta anos atrás, quando desembarquei no centro da cidade inaugurando minha vida de cinza funcionário, a área chamada El Bajo apenas tinha velhas memórias de seus anos de esplendor. As descrições de muitos tangos não pareciam falar daquelas mesmas ruas, e as anedotas boemias contadas por pessoas como meu pai ou meus tios não davam a impressão de ter sido vividas ai. Entre locais fechados onde apenas ficavam, morrendo, dois ou três antigos cabarés, El Bajo resignava-se a desolação que mostrava a vizinha área bancaria fora do horário de trabalho. Cheguei a conhecer um desses lugares antes de sua extinção. Era difícil encontrar vestígios de tempos gloriosos nas mulheres, que só destilavam tristeza e melancolia esperando o final, mas os detalhes do ambiente eram impressionantes. Prateleiras esculpidas em madeira, vitrais, espelhos chanfrados, e até esculturas que pareciam flutuar no ar. Olhando tudo com a boca aberta, imaginando o som da orquestra de Aníbal Troilo na década dos ‘40 em lugares como aquele, uma tarde a voz de uma das anfitriãs me trouxe de volta à realidade.

–Menino, para ficar aqui você tem que me pagar um uísque. Se não paga o grandão da porta vai vir a falar contigo.

Há vários anos El Bajo floresceu novamente. Muitas ruas ficaram pedestres e tem locais de todas as cores com tabelas estendidas nas calçadas. Desde bares onde os yuppies da cidade celebram com estilo gringo o pós-office ou bebem cerveja em homenagem a um santo irlandês, até os clássicos botecos com pouca luz e atividades silenciosas. A zona é só um exemplo de lugares da cidade onde o limite da calçada foi se deslizando para o meio ou diretamente desapareceu. Também viraram seu aspecto avenida Corrientes (que ainda conserva seu apelido, a rua que nunca dorme), avenida Boedo desde Independência até San Juan, e tantos outros cantos.

Em uma dessas calçadas largas, a de Diagonal Norte, foi onde um meio dia encontrei a este cara. Eu estava sentado em um banco esperando a hora de voltar para o trabalho e revisando alguns tickets de apostas.

–Ganha algo? –me perguntou sorrindo e ocupando o banco vizinho.

Quando vou para rua no horário de almoço pelo geral não tenho vontade de falar com ninguém, mas a expressão amigável e o aspecto de veterano experimentado me inspiraram confiança.

–Nunca ultrapassei a marca de cinco acertos jogando estas Quinielas Poceadas (um jogo onde tem premio quem acerta sete ou oito números entre os 20 primeiros de 100 possíveis)

–Sim, é muito difícil. Mas quando uma pessoa gosta do jogo… –disse o homem fechando os olhos a abrindo as palmas das mãos.

–Na realidade eu não gosto desde jogo, faço apostas só quando veio que o dinheiro acumulado é muito. Não fico entusiasmado fazendo apostas sem utilizar a cabeça, sem ter a possibilidade de pensar para me defender. Por exemplo, sou incapaz de me sentar em um bingo ou frente a uma máquina automática dos casinos.

–Concordo com você.

–Além disso, em jogos como este as possibilidades de êxito são remotíssimas. Às vezes jogo alguma coisa na quiniela, mas só às vezes.

–Quiniela aqui ou em Uruguai, jogo do bicho em Brasil, e não lembro que nome tem em outros países, um clássico. Mas pelas percentagens favoráveis ao banqueiro, são muito melhores jogos como Roleta ou Black Jack. Você vai para o casino?

–Muito pouco. Gosto, mas meu jogo de apostas preferido desde sempre é apostar nas corridas de cavalos.

O homem fez um gesto de aprovação. Remexeu um bolso de seu paletó, tomou bloco e caneta e fez uma anotação olhando a rua. Continuou falando, mas sem deixar de olhar o trânsito e fazer anotações.

–Eu tampouco gosto desses jogos onde a pessoa não faz mais que apostar e esperar. Mas um dia encontrei uma variável muito interessante.

–O que?

–A investigação –me disse erguendo as sobrancelhas. Depois voltou a escrever no bloco e ficou em silêncio. O olhei para que continuasse falando.

–Tudo começou quando um amigo me disse que tinha um sistema para jogar na quiniela. Um método que tinha lhe permitido colher bom dinheiro no último mês. Pedi-lhe explicações sobre o funcionamento do sistema, e durante vários dias o testei com resultados velhos. Depois liguei para ele e aconselhei que deixasse de jogar nesse preciso momento. Que resguardara o dinheiro ganhado e esquecera-se do assunto. O sistema ao longo de um ano gerava perdas em dez meses, ficava equilibrado em um, e tinha saldo favorável só em um.

–Que boa sorte a de seu amigo.

–Sim, a prova de bombardeios. Ele jogou justamente quando a onda ficava na cima. Há gente com muita sorte.

–E como funcionava o sistema?

–Muito simplesmente. Ele olhava as unidades aparecidas no primeiro lugar dos sorteios da manha, meio dia e tarde de uma quiniela. Se as unidades eram distintas, então jogava as três no sorteio da noite. Se ganhava, por exemplo, com cem pesos, colhia quatrocentos de ganância, sabido é que a relação do premio é 7-1. Se não, ainda tinha margem para outro intento, e ganhando nesse colhia um saldo favorável de cem. Quando alguma unidade repetia-se nos três primeiros sorteios, ele não apostava.

–Sim, muito simples o método. Você o salvou. Havendo ganhado dinheiro no primeiro mês, ele ficava pronto a entrar de cabeça no segundo. Se ai não ganhava, entrava no terceiro para desquitar, no quarto para equilibrar, e assim direito para mendigar nas ruas.

–Ah… vejo que você tem claro o caminho para a ruína. Ele não sabia, mas realmente estava apostando pelos maiores percentuais. Eu descobri isso quando comecei a investigar.

O tema parecia apaixoná-lo. Tinha um maço de cigarros e me convidava para fumar, embora sempre olhando a rua e fazendo anotações no bloco. Eu tinha que voltar ao trabalho, perguntei se ficava nesses bancos de forma habitual. Ele disse que pelo menos durante duas semanas poderia encontra-lo ai.

Dois dias depois voltei. O homem já estava fazendo anotações e protegendo o bloco da garoa com um plástico transparente. Eu não queria me sentar no banco molhado e propus entrar ao bar vizinho para tomar um café.

–Desculpe, mas não posso me mover deste lugar. Vamos nos sentar naquele de lá, o arvore vai nos cobrir um pouco.

A nova posição tornava difíceis suas anotações.

–Você tem interesse na investigação? –me perguntou.

–Me interessava. Estudei muitos sistemas de roleta, quiniela e outros jogos, mas depois fiquei entediado e deixei.

–Acontece com frequência. Eu a partir daquele dia que lhe comentei, comecei a estudar. Fui enchendo meu computador com uma grande quantidade de sistemas, bases de dados e estatísticas.

–Internet e os computadores trocaram tudo. Também a forma de fazer apostas.

–Claro. Mas para mim isso foi e não foi uma vantagem, porque minha cabeça explodia com a quantidade de coisas que se podiam investigar e testar. Por alguns meses até fui parte de equipes de investigação formadas por jogadores. Com o passo do tempo me tornei bastante experiente em Excel, fórmulas, algoritmos e tudo isso.

Começava a chover mais forte, mais o cara não demostrava a mais mínima intenção de se levantar do banco.

–Volte ao trabalho, agora você está se molhando seriamente –me disse. –A próxima semana continuamos.

Na segunda passei pela Diagonal Norte, onde o homem continuava com suas notas. Perguntei-lhe em que horário estava libre para tomar alguma coisa no bar e retomar a conversa com mais tranquilidade. Concertamos o encontro para essa mesma tarde. Quando cheguei ao bar já o descobri parado na porta. Apenas nos sentamos retomou a conversa como se tivéramos interrompido há dois minutos.

–Existem duas formas básicas de atacar o jogo da quiniela com método: pelos atrasos ou pelas repetições. Quase todos os programas que estudei e também os que eu mesmo projetei tem a mesma raiz, o resto é fofoca. Há muita gente lucrando com o desespero do vizinho. Colocam na venda um sistema porque sabem que sempre alguém cai na armadilha, e ai fazem seu negocio. São profissionais, estafadores que cobrem muito bem suas costas para que ninguém possa encontrá-los e quebrar sua cabeça.

De pronto suspeitei que ele tivesse a intenção de me vender um sistema.

–Jogar um número, dois, três, jogar os números que menos saíram, os que mais saíram, jogar com referencias de mídias ou recordes, jogar só em contextos favoráveis, com base nas tabelas de frequências, segundo a Lei do Tercio, a Lei do Quinto ou a Lei da Bosta. Ao longo do tempo tudo finaliza na área vermelha onde as progressões tornam-se insustentáveis para maioria dos apostadores. Claro que alguns sistemas são válidos, mas com uma grande caixa de apoio. Considere que algumas pessoas jogam para fugir do imposto de rendas.

Depois de analisar uma meia hora distintos sistemas o homem foi até o banheiro. Olhei o relógio, pedi a conta. Desde a primeira vez que falamos ele não tinha me falado nenhuma novidade, nada que eu não conhecesse.

–Você perdeu muito dinheiro com as apostas? –perguntei saindo do bar.

–Praticamente, nada. Por duas razoes. Um: não tenho. Dois: testei todos os sistemas com bases de dados, sem coloca-los em prática. Como os resultados nunca foram os buscados, não implementei nenhum.

Já era hora de perguntar o que me interessava.

–Essas anotações que você faz estão relacionadas com alguma investigação nova?

–Claro. Amanhã vou lhe explicar.

No meio dia seguinte não consegui evadir um problema no escritório e não sai para rua, mas a tarde passei pelo bar. Apenas me descobriu, o barman fez-me um sinal.

–Esse senhor que ficou com você ontem lhe deixou isto.

Era um envelope fechado. Pedi um café cortado enquanto o abria, e li:

“…vi a circulação de meu escuro sangue, vi a engrenagem do amor e a modificação da morte, vi o Aleph desde todos os pontos, vi no Aleph a terra, vi meu rosto e minhas vísceras, vi teu rosto e senti vertigem e chorei, porque meus olhos haviam visto esse objeto secreto e conjetural cujo nome usurpam os homens, mas que nenhum homem olhou: o inconcebível universo.” J. L. Borges. O Aleph.

Voltei a encontrá-lo na quarta, nos bancos de Diagonal Norte.

–Leu o que deixei para você no bar? Tenho um amigo que não entende nada dos assuntos de apostas e jogos de dinheiro. Uma pessoa muito analítica, muito inteligente. Eu pedi que estudasse um sistema que estava desenvolvendo, e me dera sua opinião. Ao pouco tempo ele me disse: “Fico com a impressão de que jogar com sistema é o mesmo que jogar qualquer coisa.”

–A velha discussão.

–Isso. Na verdade, ainda continuamos discutindo. Mas depois me disse que olhando aquelas folhas teve ima ideia. Eu sabia que, informado de qualquer coisa, de sua mente sempre saia algo interessante, de modo que escutei atentamente. “Em algum lugar deve estar o ponto exato onde se exibem com antecedência os resultados de um jogo, ou de todos os jogos. Um ponto do espaço onde se refletia o que vai acontecer essa noite no sorteio da quiniela, ao outro dia em uma roleta do casino ou o final de semana no hipódromo.”

O homem ficou me olhando em silêncio, esperando algum comentário. Eu só sorri.

–Em isso estou meu amigo. ¿Você conhece ao Rafa? –perguntou-me apontando para o engraxate que trabalha na porta da Casa da Província de Salta. Claro que o conhecia.

–Uma tarde me contou que havia acertado dois dias consecutivos no sorteio noturno da quiniela jogando os números das placas dos dois primeiros carros que viu passar pela rua Sarmiento quando o semáforo virou a verde. Imediatamente associei suas palavras com a teoria de meu amigo.

–Espere. No me vai dizer que você anota os números das placas dos carros que avançam primeiro quando o semáforo vira a verde.

–Exato. Perguntei ao Rafa mais ou menos em que hora ele tinha olhado aqueles carros. De um deles lembrava bem porque viu justamente quando voltava da casa de apostas depois do primeiro sorteio. Ao outro, tinha quase a segurança que o viu antes das três da tarde, quando vai para sua casa. Bom, todos os dias, nesse espaço de tempo, eu ocupo meu lugar em um banco e anoto no bloco. Depois controlo os resultados e vou completando a estatística. Quem sabe, tal vez esse ponto do espaço fica muito perto, aqui na esquina de Sarmiento e Diagonal.

Num ato quase involuntário olhei para esquina. Passava um taxi rapidamente, quase sobre a luz amarela, mas sem meus óculos não consegui olhar o número da placa.

–Levo anotações de poucos sorteios ainda. Com uma mostra tão pequena nenhuma estatística pode ser seria. Além disso, este não é único ponto que estou seguindo. Pelas tardes estou na esquina da rua Solís e avenida Belgrano.

Marcelo Fébula

 

 

Jeff Beck: Loud Hailer

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A lendária guitarra de Jeff Beck está a postos em Loud Hailer. Para quem procura seus riffs alucinantes talvez se decepcione, não que eles estejam em falta é que a economia dos solos é trocada pela harmonia sólida em cada canção. Além do mais, ele, generoso, divide a lead guitar com Carmen Vanderberg e os vocais passam a ser de Rosie Bones, ainda que preserve em sua maioria as faixas instrumentais. Há uma permanente presença do “hoje” nas letras, quem sabe na atitude de enfrentar esse novo de cada dia, sobretudo. Beck, no entanto, dosa sua energia e faz do disco uma fonte revigorante de música ao mesmo tempo em que diz não descansar sobre o passado.

Judy Collins sings Lennon&McCartney, Bob Dylan, Leonard Cohen…

Judy Collins

A capa, recente, traz no título o repertório sagrado de John Lennon e Paul McCartney. Doze canções à disposição, prontas para o percurso sonoro e vocal que Judy oferece. “And I love her”, “Blackbird”, “Hey Jude”, “Penny Lane”, “Yesterday” ou “The long and windind road” estão presentes entre clássicos e menos conhecidas, entre as fases do quarteto e sua genialidade. A cantora de folk e rock tem uma história vinculada ao novo desde o início dos anos sessenta. Suas “leituras” são generosas e o talento escorre suave em nossa direção. tem em sua bagagem discos com canções de Bob Dylan, de Leonard Cohen, Pete Seeger e muitos outros. Sempre com sensibilidade. E é essa face muitas vezes ausente nos dias de hoje, que Judy traz para o Chronos e para quem aqui chega.