Cecilia Zabala: Aguaribay, Argentina que se renova

ceciliazabala

O primeiro disco solo de Cecilia Zabala aponta o seu destino: o olhar renovado para o passado, o presente e já ingressando no futuro. A cantautora nascida em Buenos Aires mescla elementos do folclore, do tango, música popular brasileira e contemporânea com arranjos e interpretações muito pessoais. Lança seu olhar ainda sensível aos novos, aos que renovam, como ela, a sonoridade sem perder de vista a origem ainda que se mostre afastada delas, há um profundo sentimento de raiz em suas harmonias. Aguaribay é um oceano de clássicos, composições próprias e texturas tranquilas que cruzam o Prata em direção ao mar. Cuchi Leguizamon, Atahualpa Yupanqui, Diego Penelas, Cacho Echeñique, Juan Quintero, Julio Espinosa e mais convidados do porte de Silvia Iriondo (em breve por aqui), Quique Sinesi e Juan Falú são credenciais que revelam o talento de Cecilia e seu trabalho. Instrumentista, traz junto uma gama infindável de influências, fruto de inúmeras excursões ao exterior, e ao interior da sua Argentina. Mesclar esse universo todo faz de CZ um nome de ponta no cenário platino.  E sempre em busca do novo, ou fazer a renovação a partir de canções passadas.

Cecilia-Violeta

O disco Violeta é o resumo de quem é Cecilia Zabala. O que disse León Gieco sobre, ao produzir o trabalho: “Un día revisando mi biblioteca encontré un libro que contenía
composiciones originales para guitarra de Violeta Parra.
No recuerdo bien cómo llegó a mis manos, pero al instante pensé
que era importante dar a conocer esas músicas. Al tiempo
se lo mostré a Osqui y a él se le ocurrió que Cecilia sería ideal
para este proyecto. Estas dieciséis piezas, la mayoría creadas
antes de su segundo viaje a Europa en 1961, constituyen un lado
desconocido de su obra. En ellas se puede percibir su gran creatividad
y capacidad de síntesis. Que hayamos podido hacer este disco
me hace muy feliz por lo que significa la música de Violeta Parra
en la cultura latinoamericana”

Um trabalho a altura do que há de melhor e mais encantador quando se trata de mexer em canções de consagrados e dar a elas uma roupagem nova e então se percebe o quanto a música chilena, argentina e uruguaia de tanto tempo atrás continua atualíssima. E renovador. Cecilia Zabala, uma cantautora para ser presente. Ainda há muito o que escrever, mas creio que a também docente de música, apresente a si mesma nos vídeos abaixo.

Soledad Villamil: Cancion de viaje

Soledad

Soledad Villamil é conhecida pela sua atuação no belíssimo O segredo dos seus olhos, em atuação com Ricardo Darín, de Relatos Selvagens. Estou sendo injusto. Demasiado injusto. Ela possui trânsito livre nas mais diversas áreas de expressão artística: teatro, cinema, música e televisão, por exemplo. Dona de talento superior, é capaz de realizar qualquer trabalho com a mesma intensidade que as exigências pedirem. Sem deixar nenhuma espécie de dúvida quanto ao resultado final. É uma artista completa. E, seus primeiros passos, na complexa vida na arte começa desde criança na música, estudando vários instrumentos musicais e por aí caminha, passando por outras tantas expressões da arte. Em uma dessas rápidas passagens, não lembro se por Buenos Aires ou Montevidéu, encontrei o disco Cancion de viaje, seu terceiro solo. É um disco que apresenta uma diversidade imensa em seu repertório repleto de paisagens e sobretudo com uma forte carga emocional. Um verdadeiro mix de compositores, em versões com a identidade de Soledad, e canções próprias escritas durante suas viagens. Entre os escolhidos estão Pablo Milanés e o poeta Nicolás Guillen, e Violeta Parra. Há uma passagem de “Biromes y servilletas”, das melhores do álbum, que tem a assinatura de Leo Masliah, que me trouxe um pouco do meu passado de repórter. Leo estava com apresentação marcada aqui em Porto Alegre, no Teatro Renascença. A pauta que recebi para a Revista Porto&Vírgula, então editada pela Secretaria Municipal da Cultura da capital gaúcha, era entrevistar o músico. Depois de trinta minutos de perguntas e respostas monossilábicas do tipo sim, não, não sei, não conheço, desisti de continuar. A noite, no show, o deslumbramento diante de tanto talento e disposição. Era outro Masliah. Fiquei sem a entrevista e ganhei um belo show. Agora, ao escutá-lo na voz de Villamil o passado se torna tão presente e apenas confirmo o que a quase unanimidade faz em relação a argentina de La Plata: extraordinária. As dez faixas passam rápido demais. Porém, são minutos preciosos que repercutem dentro de quem escuta que apenas saber que o disco está sempre por perto é motivo de alegria e felicidade. Soledad Villamil é patrimônio cultural da nossa América.



Fain Mantega: o folclore e o contemporâneo na música argentina

Fain

Há muito a música contemporânea pede socorro ao folclore. Aos ritmos mais tradicionais. Isso em todo o mundo. Não raro se escuta mesclas de blues com rock, do erudito com o rock. Basta lembrar o chamado rock progressivo do Yes, do Emerson, Lake & Palmer, do Focus, exemplos da mistura com passagens memoráveis. Em nossa América não é diferente. Os ritmos desde a dominação espanhola se misturam. O folclore, o indígena, todas essas sonoridades acabaram se unindo e criando outras tantas sonoridades. Muitas delas criativas, outras nem tanto. Muito trabalho de recompilação do folclore foi realizado, na Argentina por Leda Valladares, no Chile, por Violeta Parra. Aqui em nosso pampa quanto da nossa cultura da terra passa por Paixão Cortes e Barbosa Lessa. Não significa, no entanto, a banalização da cultura musical. Muitas vezes penso que o estado virgem do folclore deva assim permanecer, em outros momentos saúdo o encontro das artes. E de contradição em contradição, vou descobrindo álbuns e nomes que procuram canalizar essa energia e conhecimento com criatividade. Assim, caiu-me em mãos pelo amigo Carlos Branco, da Branco Produções, um cd do Duo FainMantega. Na capa está escrito música contemporânea argentina, tango e folclore. Na contracapa, críticas positivas, inclusive uma assinada pelo nosso Egberto Gismonti e muito entusiasmado pelo desempenho de Paulina Fain, flautas, e Exequiel Mantega, piano. Com fortes influências colhidas no tango, no próprio folclore, no candombe uruguaio, na música popular brasileira, no erudito, o Duo consegue captar um quê de novo e mostra que muitas dessas mesclas podem produzir trabalhos que levam o público a buscar conhecer melhor a sua própria cultura. Com linguagem e identidade próprias, Fain e Mantega mostram fôlego para a composição e leitura de mestres com Piazzolla, Chick Corea, Keith Jarret, além, claro, dos compositores argentinos. Muito virtuosismo e talento corre pelas veias musicais da dupla. Quem ganha somos nós.

duo_fain_mantega_secretos_en_reunion_middle_11097

www.youtube.com/watch?v=IbFi-PDBKjk

www.youtube.com/watch?v=KBkOIf3JFbs

www.youtube.com/watch?v=Kx6pFpEOL1E

www.youtube.com/watch?v=fGFFjVhpMbw

www.youtube.com/watch?v=pG8uNfvexPc

Foto e reprodução de capa capturadas na Internet.