O nome Eric Clapton dispensa toda e qualquer apresentação. Tem vida própria, fala por si ao natural. está presente na História da música assim como está presente em festivais e shows de grande relevância social. Crossroads está inserido em sua vida. Desde 1999 reúne os maiores e melhores guitarristas do mundo em torno do Centro de Tratamento de Drogas. Um trabalho admirável acolhido pelos instrumentistas e músicos de todos os estilos, técnicas e gêneros. No palco, que pode ser Madison Square Garden ou o Toyota Park, por exemplo, eles se revezam em atuações assombrosas e desfilam uma integração não apenas musical. Há um elo que os une, além do show beneficente, que uma textura de harmonias e melodias irresistíveis para que ouve cada uma delas. Nomes como JJ Cale, BB King, Zakir Hussain, Steve Vai, John Mayer, Joe Walsh, Jonnhny Winter, Robert Cray, Keith Richards, ZZ Top, John McLaughlin, Carlos Santana, Albert Lee, Bo Dyddley, Vince Gil, Buddy Guy, Jeff Beck, Willie Nelson, Los Lobos, Andy Fairweather Low, Taj Mahal e uma infinidade de outros tantos abraçam o show, o público, a causa e cada canção é algo extraordinário de ouvir com devoção. São artistas que assumem-se como pessoas. E o talento e a sensibilidade ultrapassam todos os limites e fronteiras e todos nós somos presenteados com performances inesquecíveis.
Sting, ao sair do The Police, tem sido produtivo e desenvolvido sua criatividade em fases bem definidas. Nem sempre o resultado alcança todas as estrelas possíveis, mas deixa marcas. Nothing Like the Sun é um álbum curioso. Não nos gêneros em que flerta de forma explícita – jazz e rock – mas pela repercussão. Lembro de ter lido em alguma revista, o nome perdeu-se há muito em minha memória, de encontra-lo em um lista dos piores discos de todos os tempos. E olha que na relação estava trabalho dos Beatles. No entanto, como tenho lá minhas reservas quanto a listas, ainda mais de melhores ou piores, eu sempre gostei desse Sting despojado. E em particular esse tem o crivo da sua participação pelas América do Sul com a Anistia Internacional e momentos confessionais, em função da partida de sua mãe. Um trabalho emotivo, para dentro. E também que coloca as coisas em lugares, como em “They dance alone”, em função à época ainda os reflexos da ditadura chilena de Augusto Pinochet. E as composições ganham muitas conotações a partir de seu sentimento interior e os acompanhamentos atestam o quanto Sting acerta em Nothing. Algumas músicas, como “Fragile” foram também, não neste disco, cantadas em língua portuguesa ou em espanhol. Nomes como Mark Knopfler, Eric Clapton, Ruben Blades, Dil Evans, Manu Katché, Branford Marsalis, Mark Egan, Andy Summers e outros mais asseguram a qualidade e o peso das canções. Sério, comprometido, afetivo e consciente, Sting produziu uma obra sensível e próxima da realidade de então.
Ambos são amigos de longa data. Sempre estiveram um no caminho do outro e o percorreram juntos algumas vezes. Buscar o passado deles é como jogar água na chuva. Não é necessário, basta lembrar que estiveram no Blind Faith e tudo fica mais claro. Sem chuva, claro. E muito sol. Final da primeira dédada dos anos 2000 se reuniram no Madison Square Garden e realizaram show que se transformou em registro ao vivo. 21 canções que vasculham suas carreiras, suas influências, as bandas em que tocaram – Cream, Traffic, por exemplo -, trabalhos solos, blues, JJ Cale, Buddy Miles, Otis Rush, Jimi Hendrix. É pouco? Nem pensar. Os clássicos como “Cocaine”, “Glad”, “Little Wing”, “Voodoo Chile” e “Presence of the Lord” parecem ter saído do forno criativo de ambos hoje. O que pode, em um primeiro momento, soar pesado aos ouvidos na verdade chega com suavidade e intensa entrega de Clapton e Winwood. O clássico dos clássicos “Georgia on my mind” desliza no player com emoção. Justa homenagem a Ray Charles. A alquimia entre os velhos amigos se mantém intacta. A banda de apoio é magnética e sustenta com talento o virtuosismo da guitarra e do piano de Eric e Steve. está certo, não um disco que você vai ouvir a todos instante. Não é necessário. Basta tê-lo e de repente lá está ele no seu player. E você se deixando levar por dois dos maiores músicos de todos os tempos com a tranquila sonoridade que já é história. Pode ser também a sua história.
Você pode escolher uma das tantas faces de David Crosby: The Byrds, Crosby, Stills & Nash, Crosby, Stills, Nash & Young, Crosby & Nash ou apenas David Crosby. Há em todos eles altos e baixos. Ao gravar If I Could Only Remember My Name a vida de Crosby estava aos pedaços devido a morte de sua namorada. Mal conseguira terminar Déja Vu como CSN&Y e ao entrar no estúdio os redemoinhos do sofrimento entraram junto. Sua estreia ainda que dolorosa foi um passo gigantesco. E o resultado, magnífico. Juntou ao seu redor músicos como Jerry Garcia, Joni Mitchell, Grace Slick, Paul Kantner, Graham Nash, Neil Young, para ficar apenas com esses nomes – a lista é imensa e rica – e produziu um disco inesquecível. Entre falhas vocais e outros extraordinários, o líder leva adiante as canções como estivesse seguindo o arco-íris. Encontra o pote de ouro. Ao alternar passagens melancólicas, que refletem seu espírito, com outras mais despreocupadas, a ênfase ao acústico e a pedal steel faz a diferença. Ao não esconder toda a escuridão que o habitava, David ousa em participações á capela, silêncios, harmonias doces e tristes, alterna passagens de forma criativa e sensitiva. Trabalho perturbador que revela a alma de Crosby, e que revela uma série de canções únicas, o que torna o álbum igualmente único. E emocionante.
Um álbum para alcançar nota máxima em qualquer critério da crítica tem que ser “o” álbum. Long Player dos Faces (1971) é muito mais que um ótimo disco. A sua formação: Rod Stewart nos vocais, Ian McLagan no órgão e piano, Kenny Jones na bateria, Ron Lane no baixo, guitarra e vocais, Ron Wood o lead guitar, slide guitar e pedal steel guitar, Bobby Keyes no saxofone e Harry Beckett no trumpet. Talvez apenas citar os nomes e o que cada tocou no disco seja o suficiente. Rock puro. Puríssimo com aqueles momentos em que tudo vai se transformando e a obra se completa com um tantas transgressões que torna-se um clássico. Quem sabe porque ainda que os músicos sejam do mesmo lugar, são muito de outros grupos também. De passagem, Stewart foi crooner de Jeff beck em Truth lá de 68 e também cinco estrelas de cotação e nos créditos Ron Wood e nos teclados Nicky Hopkins. Wood é um Rolling Stone. Lane tão foi bem sucedido em sua carreira, mas fez trabalhos, não como músico para o Led Zeppelin, por exemplo, e anos depois incursionou de novo pelos discos contando com a ajuda dos amigos Jimmy Page, Eric Clapton e Pete Townshend (The Who). Bobby Keys foi outro “Stones” e esteve no lendário All Thngs Must Pass do George Harrison. E assim, cada um deles seguiu vários caminhos por tantos grupos que a aparente e criativa desordem dos Faces na verdade contribuiu para a construção de extraordinário grupo de músicos talentosos juntos e que gravaram peças antológicas do rock. Long Player é o seu segundo disco e é daqueles em que o prazer e a alegria em escutá-lo é insuperável.
Conheço o trabalho de Leon Gieco desde sempre , acredito. Não lembro exatamente a data em que suas canções entraram em minha vida, lembro apenas de que quando meus amigos iam a Buenos Aires pedia para que nas suas bagagens de retorno estivessem algum vinil ou cassete dele. E assim vinham aos poucos alguns dos seus discos. Isso preenchia aqueles anos confusos e de transição que foram os oitenta por aqui no Brasil. Somente em 94 é que estive com Leon. Primeira entrevista, cds nas mãos – Desenchufado e Mensajes del alma – e palavras que faziam tanto sentido quanto a necessidade de transformar não apenas o meu país mas toda a América Latina. Não sei exatamente quando ultrapassei a fronteira entre o jornalista e o admirador confesso, quando o entrevistei naquele inverno rígido que descansava na capital portenha. Sabia no entanto que a palavra de Leon mais que um eco irradiava seus raios por todos os espaços que eu pisava ou frequentava. E ao mesmo tempo sofria com um mal que até hoje permanece: a cultura latino-americana não transita livremente entre os países. Não encontro nenhum disco de Gieco nas lojas de Porto Alegre como se fosse disco brasileiro, e sim como importado o que eleva seus preço a valores que os faz adormecer nas prateleiras. Foi em uma ida a Montevidéu que comprei Por partida triple coletânea magnífica dividida em três partes, significa três cds, que abrem o arco infinito de sua obra: Rock, Folclore e Rutas. Nas 47 músicas escolhidas, as faixas distribuídas conforme o trio de gêneros, vão desde gravações inéditas, canções suas gravadas por outros artistas e ele como convidado, versões ao vivo e que jamais estiveram antes em registros oficiais, gerações distintas de artistas e por aí o trabalho vai se desenvolvendo a tal ponto que fica impossível desligar o player. É natural que haja passagens da carreira do músico nascido em Cañada Rosquín, província de Santa Fé, em que seus trabalhos não sejam alçados a categoria maior, sem jamais entretanto afetar seu compromisso social expresso em sua poética contundente e densa. Difícil escolher qual dessas mais de quarenta composições escolher essa ou aquela. O que já estava explícito no seu Por partida doble ou em qualquer outro de seus discos,com a mesma intensidade de respostas e questões, e também com generosas passagens de amor e de paisagens naturais, a sua obra se revela coerente. O social, a razão de viver do ser humano está em primeiro lugar. E sua harmônica e o violão não deixam um único acorde de fora desses versos tão sólidos e definitivos. Uma caixa com três cds e um oceano de sentidos a nossa espera.
Neil Percival Young, canadense de Toronto, que daqui a poucos dias completará 69 anos, é uma lenda. Por sua voz ora suave ora mais densa, pelas letras de suas músicas, pelo talento, pela criatividade e, também, por sua imensa capacidade de tocar folk, country, rock, hard rock ou qualquer outro estilo. Sua versatilidade junto à guitarra, violão acústico, harmônica, piano, banjo e outros instrumentos o colocam de fato e de direito como lenda. Acompanhado quase sempre pela eterna Crazy Horse, está de disco novo. Storytone chega ou em cd simples ou duplo. No simples, acústico, solo. No duplo, canções orquestradas. Disco com a assinatura de Neil Young. Para muitos pode até ser mais um de sua vasta discografia. Pode ser, porém o acústico é de altíssima qualidade. Confesso que o orquestrado me chegou estranho, ainda.
Com o nome estrelado em formações históricas como Buffalo Springfield, Crosby, Stills, Nash & Young, The Stills-Young Band, Pearl Jam entre tantas outras bandas, o incansável compositor e cantor é considerado, atualmente, pela Revista Rolling Stone o 17º melhor guitarrista do mundo.
O disco que está chegando ao mercado, não foi bem aceito pela crítica. Em especial, repito, a parte que está à frente, como um crooner, de uma orquestra. A voz, antes àspera, frágil, delicada e imperfeita, se perde no emaranhado de 92 componentes, coral, big band de metais e percussão. O que funcionou em discos como Harvest Moon, Zuma ou Tonight´s the Night fica fora de compasso. Por outro lado, mesmo sendo o acústico melhor, as letras deixam a desejar, contrariando a regra de sempre. Alguns críticos consideram o disco dos seus piores, prefiro dar tempo ao tempo. De toda a sorte, vale a pena conferir. Em especial, a parte solo.
Abaixo, um pouco da trajetória de Neil Young.
www.youtube.com/watch?v=Eh44QPT1mPE
www.youtube.com/watch?v=8odlwI94uFA
www.youtube.com/watch?v=PxRKP940Fdw
www.youtube.com/watch?v=UlHf8rjkK5Q
Fotos: Acima, http://www.telegraph.com.uk – Photo: AP; capa, capturada na Internet e a terceira, http://www.meurock.com.
A morte de Jack Bruce nos deixa mais embrutecidos. Mais tristes e vazios. Aos 71 anos, por problemas hepáticos – ele havia há anos feito transplante de fígado – o escocês de Glascow nos deixou. A história do rock, da música tem o seu nome gravado em letras maiúsculas. Nos anos 60 formou com o guitarrista Eric Clapton e o baterista Ginger Baker talvez o maior trio que já existiu. Lembro que justamente lá pelos anos sessenta, uma revista norte-americana escolhera os melhores instrumentistas do ano. Os três, que se chamavam Cream, fora, escolhidas em seus instrumentos. o baixo de Jack era extraordinário, dava um ritmo e uma densidade a cada música sempre com a sua criatividade reinventando arranjos e solos únicos. E pensar que certa feita, esse Cream fantástico, empresariado por Robert Stigwood, o mesmo dos Bee Gees, fazia com que abrissem os shows dos irmãos Gibb.
Se 1968 foi emblemático em todos os sentidos, o anos que nunca terminou e não terminará, por essas coisas da vida, foi o ano do fim do Cream. Composições clássicas como “I feel free” e a híper “Sunshine of your love” são inesquecíveis. Assim como o disco Weels of fire ou os seus shows de despedidas.
A carreira solo de Bruce não foi bem sucedida como no tempo do Cream. porém, fez a música que gostava de fazer. Com um quê de jazz e blues, sempre inovando e criando, deixa marcas profundas. Esteve em Porto Alegre com a sua Big Blues Band em 2012 – não assisti!.
Abaixo, um pouco do trabalho único e fantástico de Jack Bruce.
www.youtube.com/watch?v=OUo3Nv7k4R0
www.youtube.com/watch?v=U0cTwy_p8fU
www.youtube.com/watch?v=3OcOTzVARDA
Fotos: Reuter/Brendan McDermid.