Conheço o trabalho de Leon Gieco desde sempre , acredito. Não lembro exatamente a data em que suas canções entraram em minha vida, lembro apenas de que quando meus amigos iam a Buenos Aires pedia para que nas suas bagagens de retorno estivessem algum vinil ou cassete dele. E assim vinham aos poucos alguns dos seus discos. Isso preenchia aqueles anos confusos e de transição que foram os oitenta por aqui no Brasil. Somente em 94 é que estive com Leon. Primeira entrevista, cds nas mãos – Desenchufado e Mensajes del alma – e palavras que faziam tanto sentido quanto a necessidade de transformar não apenas o meu país mas toda a América Latina. Não sei exatamente quando ultrapassei a fronteira entre o jornalista e o admirador confesso, quando o entrevistei naquele inverno rígido que descansava na capital portenha. Sabia no entanto que a palavra de Leon mais que um eco irradiava seus raios por todos os espaços que eu pisava ou frequentava. E ao mesmo tempo sofria com um mal que até hoje permanece: a cultura latino-americana não transita livremente entre os países. Não encontro nenhum disco de Gieco nas lojas de Porto Alegre como se fosse disco brasileiro, e sim como importado o que eleva seus preço a valores que os faz adormecer nas prateleiras. Foi em uma ida a Montevidéu que comprei Por partida triple coletânea magnífica dividida em três partes, significa três cds, que abrem o arco infinito de sua obra: Rock, Folclore e Rutas. Nas 47 músicas escolhidas, as faixas distribuídas conforme o trio de gêneros, vão desde gravações inéditas, canções suas gravadas por outros artistas e ele como convidado, versões ao vivo e que jamais estiveram antes em registros oficiais, gerações distintas de artistas e por aí o trabalho vai se desenvolvendo a tal ponto que fica impossível desligar o player. É natural que haja passagens da carreira do músico nascido em Cañada Rosquín, província de Santa Fé, em que seus trabalhos não sejam alçados a categoria maior, sem jamais entretanto afetar seu compromisso social expresso em sua poética contundente e densa. Difícil escolher qual dessas mais de quarenta composições escolher essa ou aquela. O que já estava explícito no seu Por partida doble ou em qualquer outro de seus discos,com a mesma intensidade de respostas e questões, e também com generosas passagens de amor e de paisagens naturais, a sua obra se revela coerente. O social, a razão de viver do ser humano está em primeiro lugar. E sua harmônica e o violão não deixam um único acorde de fora desses versos tão sólidos e definitivos. Uma caixa com três cds e um oceano de sentidos a nossa espera.