Se tem algo que aprendi é procurar nos lugares mais inesperados o que desejo. Assim tem sido com os discos. Quase sempre misturados ou em rótulos que nada a ver com o gênero, em meio ao caos lá ele, o disco à espera de ser encontrado. Tangazo de Charles Dutoit com a Orquestra Simfônica de Montreal não em nada diferente dos tantos que apresentei por aqui. Este trabalho, que tem a participação de Daniel Binelli no bandoneón, Eduardo Issac no violão e Louise Lellerin no oboé, sobre um repertório clássico de Piazzolla tem andamentos que aprofundam suas relações entre o tango, o erudito e o jazz. Desta mescla, a riqueza contemporânea da obra do mestre argentino desafi o tempo e flutua perene sobre qualquer época, seja ela do passado, do presente e a que deverá chegar mais adiante. Porque estava ele adiante de seu tempo. Sempre haverá uma leitura que dinamize ainda mais suas notas musicais de tal forma que suas composições sempre estejam nascendo. Piazzolla tem o grande mérito dos gênios: ser sempre novo, atual. Será sempre assim. Os instrumentistas e a orquestra conduzida por Dutoit responde com sensibilidade aos apelos do tango, seja no drama, seja no improviso, seja na condução de peças que deslizam pelo universo clássico. O “Doble Concerto for bandoneon and guitar”, de pouco mais de 16 minutos hipnotiza. Envolve. Harmoniza o interior de quem o escuta. “Milonga del Angel” segue um andamento que magia tanto quanto os “Tres movimentos tanguísticos porteños”, cuja celebração orquestral é simplesmente magnífica. De uma forma serena e tranquila, reconstitui, o trabalhos de Charles e da Sinfônica de Montreal, um ambiente amoroso e de sonho e imaginário incendiado. Para uma manhã fria de outono, como esta de hoje em Porto Alegre, o café quente, Tangazo e se deixar levar por esse mar infinito de harmonias de Piazzolla, que sempre chega em nossos mares afetivos.