Miniconto: Luther – Música: Lô Borges, Al Di Meola, Madredeus, Neil Young, Leonard Cohen…

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Não há horizonte além dos olhos de Luther. A única linha que o separa da vida é a harmônica deslizando em seus lábios. Na textura do sopro, entranha-se o sol e as nuvens de poeira nublam as retinas. A pele da memória anoitece mais cedo. Os ossos da casa se desprendem e os estalos o acompanham como uma percussão.

Foto: Chronosfer: Vila Muñoz – Montevidéu.

Dylan LeBlanc: Paupers Fields

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O folk é um campo em que o semeador jamais o esgota. Sempre há um novo plantar e uma nova safra para a colheita. Dylan LeBlanc é um desses que faz do folk sua lida. Sem medos e com a suavidade da espera para colher. Paupers Fields é um trabalho assim. Feito com o talento de quem conhece a terra e nela sabe como a vida germina. Seu primeiro disco é o reflexo disso. E também da terra e seus cansaços, suas melancolias, seus fracassos, seus amores, a vida enfim se confessando pelos instrumentos e voz. As canções percorrem as sementes férteis de Nick Drake, Neil Young, Townes Van Zandt e Fleet Foxes. Ainda que a névoa da tristeza por vezes descanse entre as canções, há em LeBlanc uma promessa de dias e noites encantadas. Suas composições são o abraço e o silêncio que de repente se tornam uma constelação de harmonias luminosas. Vocais com Emmylou Harris envolvem. Sua acoustic guitar é a palavra que falta nesse campo que floresce aos nossos olhos e se instala em nossas almas para ficar.

Crosby, Stills & Nash: Demos

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Gravações que estão ou estavam à beira do tempo, quase no esquecimento dos próprios artistas, renascem para todas as partes: músicos, gravadoras e público. Claro que por trás de muitos desses lançamentos há sem dúvida alguma a questão comercial, no entanto, também não há como dizer rejeitar escutar trabalhos ainda crus de Crosby, Stills & Nash antes de eles serem um grupo. Vale para outros artistas, por suposto. Em Demos a conjunção começa com versões solo ou em dupla, eventualmente com a presença de Neil Young, quase todo acústico e cada um revelando suas origens. Se Graham Nash vinha dos Hollies, David Crosby dos Byrds, Stephen Stills do Buffalo Springfield, cada um foi demonstrando suas influências dessas bandas e cada qual com o seu jeito de compor, tocar e cantar. O grande mérito do disco é esse. E para além, mostrar o quanto juntos são harmônicos e brilhantes. Young esteve também no Buffalo. E em algum momento a corrente elétrica ou seria acústica? os uniu. No lendário Woodstock, confessam nervosismo e que estavam em suas primeiras apresentações ao vivo. O conjunto de músicas – doze –  apresentado em Demos remete ao período de 1968 a 1971 e que após, ao entrarem em estúdio, receberam o tratamento que os tornou um trio ou quarteto ou dupla excepcionais – ao longo dos anos foram variando as formações entre eles. O álbum vale por tudo o que representa, desde as possíveis, digamos, fragilidades quando a sós, e a fortaleza que se tornam quando juntos. Sobretudo, um disco doce e muito bonito, bom de se escutar e melhor ainda por sabermos que são músicos que independente do talento trabalharam muito para se tornarem Crosby, Stills & Nash, às vezes com Young.

Elton John/Leon Russell: The Union

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Em algum momento – quem sabe em todos os momentos – músicos, compositores, intérpretes, instrumentistas, músicos de estúdio se encontram. Podem possuir cada um trajetórias diferentes, gêneros distintos entre si, mas lá adiante ou mesmo lá atrás estarão ou estiveram juntos. Quem gosta de pesquisar a fundo os encartes dos discos irá descobrir maravilhas e poderá contar a história da música através dos encartes. Exageros à parte, é mais ou menos isso que acontece. E essas uniões por fim dão um caráter extraordinário à evolução de cada artista. A união entre Elton John e Leon Russell é um desses momentos em que se celebra o virtuosismo. A essência do melhor que cada um pode oferecer com seus instrumentos e criatividade. Ambos mais que consagrados, embora transitando pelos quase mesmos espaços, tiveram trajetórias distantes entre eles. Leon se envolveu com Delaney & Bonnie – Clapton andava junto -, com Joe Cocker  e os Mad dogs, esteve no emblemático Concert for Bangladesh com George Harrison. E por aí seguiu, mais sou, mais rock, mais blues. Elton trilhou o caminho do pop. Com brilho, diga-se. Sem demérito algum, ao contrário, criou um estilo próprio de ser e tocar. E produziu trabalhos magníficos. A união de ambos veio por outro músico fora do comum: Elvis Costello. E com um produtor do calibre de T-Bone Burnett algo mexeu com ambos. Uma trilha foi seguida e os pianos trocaram notas precisas e reviveram seus anos marcantes. Russell com aquele gosto dos anos 60/70, quando logo após esse período exilou-se em pequenos clubes da vida e John com seu pop enraizado até a medula soando em harmonia com o parceiro somente poderia render um disco e tanto. The Union é um festival de canções inéditas, com sessões de sopros magníficas, participações de Neil Young, do Beach Boy Brian Wilson e do eterno baterista Jim Keltner. A integração  entre eles foi tamanha que não houve nada que colocasse Leon de volta ao seu período dos anos sessenta/setenta e teve o mérito de revitalizar Elton em sua dimensão como músico talentoso. Um disco que deu a ambos uma nossa história. Ganhamos nós, que ficamos escutando cada faixa com dedicação e reverência.

Harvest: tempo de Neil Young

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É verdade, o som analógico mantém, preserva a sua pureza original. O digital mascara, pode ser manipulado com maior facilidade, e sei lá mais o quê. A transição para os atuais meios de reprodução sonora tem suas vantagens, também, embora o retorno ao analógico é uma realidade. Uma das vantagens é a de recuperar registros antigos. Registros que não mais frequentavam catálogos de discografias importantes e essenciais da música. Pode avançar, do cinema, das artes, da literatura. E uma vez recuperados, estão à disposição do público. Claro, com todas as ressalvas, ponderações a favor e contra e mais outras questões, no entanto, ainda penso que se continuássemos apenas dialogando tecnicamente talvez não saíssemos do mesmo lugar. Talvez. Outra vantagem, é a reconsideração sob o ponto de vista crítico do que havia sido feito anos atrás e como é visto hoje. O conhecimento amadurece, a palavra também. E os ouvidos ficam mais apurados para escutarem melhor. Harvest é um desses tantos discos que lançado em 1972 recebeu mais críticas negativas que se poderia esperar vindo de um trabalho feito por Neil Young. O repertório foi logo rotulado de country rock, folk rock e por aí foi seguindo os passos de uma carreira solo logo após se desvincular de Crosby, Stills e Nash. Alcançou, ainda assim vendagens superiores, e ganhou corpo ao longo dos anos, e gerou mais adiante uma das preciosidades de Young: Harvest Moon. Acompanhado de um grupo batizado elo nome e The Stray Gators gravou dez canções ao seu melhor estilo. Há uma variação nas gravações tanto em estúdio, quanto ao vivo e mesmo em celeiro de uma cidade do interior dos estados Unidos, e participações mais que especiais durante a realização do projeto. De um programa de rádio onde estavam presentes James Taylor e Linda Ronstadt para algumas faixas do disco foi o suficiente para fazer de Harvest um álbum diferenciado. E aos poucos os músicos locais e outros convidados foram chegando. O baterista Kenny Buttrey, o baixo de Tim Drummond, a guitarra de Bem Keith, Jack Nitzsche em vários instrumento e arranjos, a London Symphony Oechestra conduzida por David Meecham estavam no grupo básico com os Gators. Terminou aí a lista de convidados? Nem pensar. Mais tarde, em duplas ou solos, Graham Nash, Stephen Stills e David Crosby gravam suas participações. E está feito o encantamento de um disco que levou alguns anos para ser reconhecido como um dos melhores álbuns produzidos até os dias de hoje. Canções como “Heart of Gold”, “Old Man” e “Harvest” são trilhas para muitos de nós que gostamos de música. Uma colheita felizmente não tardia de quem não havia gostado antes.

Ao povo de Santa Catarina, Xanxerê, mais que solidariedade, força e esperança.

The Bridge School Concerts: Neil Young & Friends

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Programa especial para crianças com graves deficiências e em especial a de comunicação complexas, Neil Young e sua esposa Pegy Young produzem The Bridge School Concerts todos os anos. Com o objetivo de criar programas com técnicas e tecnologias de comunicação ainda mais avançadas, os shows beneficentes acolhem os mais diversos artistas do mundo da música que em um fim de semana por ano se dedicam e dedicam seus talentos em favor dessas crianças. A cada edição, a lista se alonga: REM, Smashing Pumpkins, Red Hot Chili Pepers, Tom Waits, Willie Nelson, Lou Reed, Metallica, Norah Jones, James Taylor, Jack Johnson, Crosby, Stills & Nash, Dave Mattews, Eddie Vedder, Emmylou Harris, Bem Harper e Paul McCartney. Alguns nomes apenas mencionados acima, destes alguns já partiram, outros não estão mais juntos, o que permanece perene é o objetivo e a sensibilidade de Neil e seus amigos. A capa reproduzida acima é a primeira compilação desses concertos, foi editada em 1997, 11 anos após a realização do primeiro encontro em outubro de 1986. De formato essencialmente acústico, este volume traz além de Neil Young, performances de Tom Petty, Tracy Chapman, Pretenders with The Duke String Quartet, Beck, Bonnie Raitt, Don Henley, Ministry, Simon & Garfunkel, David Bowie, Pearl Jam, Lovemongers, Nils Lofgren, Elvis Costello e Patti Smith. Dizer que o disco é maravilhoso é ser redundante. É falta de originalidade. Falta de talento de minha parte. Todavia, o disco é maravilhoso. O projeto, ainda mais. E há outros discos, coletâneas, inclusive de 25 anos do The Bridge School. Um álbum indispensável por tudo o que representa, e sobretudo pelo espírito humanitário que todos desejamos. Um abraço de paz a todos e seja a música um do elos indestrutíveis da construção de uma ponte para essa paz.

The Stills-Young Band

Stills Young

Ao passar pela obra e biografia de Neil Young, estava lá o The Stills-Young Band. A data: 1976. Para começar mais outra confissão – de confissão em confissão vou me descobrindo – : os anos sessenta são imbatíveis em nível de cultura. Continuo cada vez mais certo disso, embora reconheça que nos dias de hoje há criatividade e muita transformação necessárias à Cultura e ao pensamento.

Umas das minhas paixões foi ( e é pelo que ainda existe no meu acervo ) o Crosby, Stills, Nash & Young. Houve variações do quarteto, ora dupla ora trio, por vezes cada um solo ou em outras agrupações. Seus trabalhos são extraordinários. Harmônicos, em vozes e melodias. Então, percebemos que David Crosby era do The Byrds, Graham Nash do The Hollies (eles gravaram um disco com canções do Bob Dylan curiosíssimo), o Stephen Stills e Neil Young andaram juntos pelo Buffalo Springfield. Em algum momento foram se desprendendo de suas origens para criarem o CSN&Y. E forma fazendo trabalhos magníficos, e também se separando, se reencontrando e assim por diante. Não faz muito, foi lançado um cd triplo de um show deles de 1974, que pode ser conferido no http://www.allmusic.com e torcer para que venha para o Brasil. Eles, no entanto, foram demonstrando suas diferenças, e suas afinidades. Crosby e Nash mais melódicos, mais harmoniosos em dupla, seguiram o seu caminho após desentendimentos gerais. Outra curiosidade, coube a Stills e Young, mais ligados ao rock, embora toda a essência folk, grava um disco com canções em que os quatro tinham e que não deram certo juntos. E nem mesmo a The Stills-Young Band teve vida próspera e longa. Resumiu-se a um único disco. Long May You Run é o resultado desses encontros e desencontros. Vigoroso e ao escutá-lo uma certa nostalgia nasce de forma espontânea. A presença de músicos como Jerry Aiello nos teclados, Joe Lala na percussão, Joe Vitale na bateria e flauta e George Perry no baixo dá solidez ao grupo. Um pouco irregular, falta aquele quê de CSN&Y, naturalmente, fato que não ocorreu com Crosby e Nash em dupla. Outra curiosidade, para variar, assim como o Cream abria os shows dos Bee Gees, três dos instrumentistas do Stills-Young participaram do LP Children of the world dos irmãos Gibb, Lala, Perry e o próprio Stills. Para quem estiver com vontade de conhecer a banda e só clicar no link abaixo.

LongMayYouRun

www.youtube.com/watch?v=NyRXoTZXrzA

Reproduções capturadas na Internet.

Neil Young, forever

Neil 2

Neil Percival Young, canadense de Toronto, que daqui a poucos dias completará 69 anos, é uma lenda. Por sua voz ora suave ora mais densa, pelas letras de suas músicas, pelo talento, pela criatividade e, também, por sua imensa capacidade de tocar folk, country, rock, hard rock ou qualquer outro estilo. Sua versatilidade junto à guitarra, violão acústico, harmônica, piano, banjo e outros instrumentos o colocam de fato e de direito como lenda. Acompanhado quase sempre pela eterna Crazy Horse, está de disco novo. Storytone chega ou em cd simples ou duplo. No simples, acústico, solo. No duplo, canções orquestradas. Disco com a assinatura de Neil Young. Para muitos pode até ser mais um de sua vasta discografia. Pode ser, porém o acústico é de altíssima qualidade. Confesso que o orquestrado me chegou estranho, ainda.

Capa Neil

Com o nome estrelado em formações históricas como Buffalo Springfield, Crosby, Stills, Nash & Young, The Stills-Young Band, Pearl Jam entre tantas outras bandas, o incansável compositor e cantor é considerado, atualmente, pela Revista Rolling Stone o 17º melhor guitarrista do mundo.

O disco que está chegando ao mercado, não foi bem aceito pela crítica. Em especial, repito, a parte que está à frente, como um crooner, de uma orquestra. A voz, antes àspera, frágil, delicada e imperfeita, se perde no emaranhado de 92 componentes, coral, big band de metais e percussão. O que funcionou em discos como Harvest Moon, Zuma ou Tonight´s the Night fica fora de compasso. Por outro lado, mesmo sendo o acústico melhor, as letras deixam a desejar, contrariando a regra de sempre. Alguns críticos consideram o disco dos seus piores, prefiro dar tempo ao tempo. De toda a sorte, vale a pena conferir. Em especial, a parte solo.

Neil 1

Abaixo, um pouco da trajetória de Neil Young.

www.youtube.com/watch?v=Eh44QPT1mPE

www.youtube.com/watch?v=8odlwI94uFA

www.youtube.com/watch?v=PxRKP940Fdw

www.youtube.com/watch?v=UlHf8rjkK5Q

Fotos: Acima, http://www.telegraph.com.uk – Photo: AP; capa, capturada na Internet e a terceira, http://www.meurock.com.