Don Atahualpa Yupanqui, simplesmente

atahualpa yupanqui

“A partícula cósmica que navega meu sangue é um mundo infinito de forças siderais. Veio a mim sob um largo caminho de milênios, quando talvez fui areia para os pés do ar. Logo fui a madeira, raiz desesperada submersa num silêncio de um deserto sem água. Depois fui caracol, quem sabe onde, e os mares me deram a primeira palavra. Depois a forma humana derramou sobre o mundo a universal bandeira do músculo e da lágrima. E cresceu a blasfêmia sobre a velha Terra, o açafrão, o “tilo”, a copla e a “piegaria”. Então vim a América para nascer um homem e em mim juntei a selva, os pampas e a montanha. Se um avô da planície galopou até meu berço, outro me disse histórias em sua flauta de “cana”. Eu não estudo as coisas, nem pretendo entende-las. As reconheço, é certo, pois antes vivi nelas. Converso com as folhas em meio dos montes e me dão suas mensagens as raízes secretas. E assim vou pelo mundo sem idade nem destino, ao amparo de um cosmos que caminha comigo. Amo a luz, o rio, o caminho e as estrelas, e floresço em violões porque fui a madeira.”

Tempo do Homem – Atahualpa Yupanqui, tradução de Dércio Marques.

Foto: capturada no Youtube