O jovem mestre Carlos Roldán, guitarra de alto nível, por Marcelo Fébula.

O fraterno amigo porteño Marcelo Fébula, jornalista e músico, todo o mês chega em nosso pequeno cais e deixa preciosidades da música argentina. Hoje. aporta por aqui Carlos Roldán. Ouvir sua “guitarra” é uma viagem para o interior de nossa alma. Gracias, Marcelo.

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Guitarrista, arranjador e compositor, Carlos Roldán nasceu em Eilde, Província de Buenos Aires, Argentina, em 22 de abril de 1989. Começou a estudar violão clássico aos nove anos com os professores Miguel Restilo e Carlos Schupak do Instituto de Folclore y Artesanías Argentinas (IFAA) e continuou seus estudos com o guitarrista Jorge Santos no Instituto de Música de Avellaneda (IMMA). Alguns de seus prêmios: “Torneos Juveniles Bonaerenses 2004, primeiro prêmio; finalista do “Pré-Cosquín 2005 e 2006”; primeiro prêmio “Música argentina para guitarra 2006”, organizado pela Guitarras del Mundo; declarado “Cidadão Exemplar” pelo Honorável Conselho Deliberativo da cidade de Avellaneda.

Oferece concertos, atualmente, em todo o país e lidera um excelente site que recomendo visitar: http://guitarrademusicaargentina.blogspot.com.ar    (Marcelo Fébula)

Pela ordem:

Trinos y alas” (chacarera) de Abel Fleury ,”El Quebrao” (gato) de Carlos López Terra, “Cuando se disse Adiós” de Eduardo Falú y Jaime Dávalos, “La llamadora” (zamba) de Félix Dardo Palorma e “La milonga perdida” (milonga) de Atahualpa Yupanqui.

 

 

 

Rodolfo Mederos & Nicolas “Colacho” Brizuela: Tangos

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A música que vem do jazz e do blues, cuja matriz é africana, verte pelos poros dos instrumentistas do mundo. E gera frutos infinitos. Aqui na América do Sul uma gama de influências a partir da conquista do território, e a custo desumano e injustificável de crimes contra a humanidade como saques da cultura, genocídios e escravatura – para ficar nesses três – inseriu no espectro cultural de nossos países a formação de novos ritmos, novos jeitos de tocar instrumentos além da introdução natural de novos instrumentos. Bom, tudo isso para dizer que músicos de tango também, tempos depois, para além das vivências dos bairros portuários e outros ambientes de Buenos Aires, não se fixaram tão somente nas estruturas convencionais de então. Ao longo do tempo, com a quebra dessa estrutura, em especial por Astor Piazzolla, os instrumentistas característicos do gênero não eram apenas autodidatas, se não que estudavam ou com músicos consagrados ou em escolas de música. E no currículo estava o jazz, que Piazzolla já mesclava ao tradicional. Não foi diferente com o bandoneón de Rodolfo Mederos e com o violão de Nicolas Brizuela. Se Mederos possui uma trajetória mais ligada as orquestras, independente de seu trabalho solo, como a do mestre Osvaldo Pugliese e parcerias importantes com Mercedes Sosa, Luis Alberto Spinetta e até mesmo com o catalão Joan Manuel Serrat. Por outro lado, “Colacho” Brizuela se consagrou como violonista de Mercedes Sosa, desde que gravou com La Negra Mercedes canta Atahualpa Yupanqui no já distante 1977. E, naturalmente, participações em diversos trabalhos em especial com o jeito peculiar de tocar violão e interpretar o folclore argentino. Dessa união, nasceu um disco memorável: Tangos. Um repertório clássico e de compositores que não aparecem em uma primeira lembrança para quem não conhece tango. Um disco instrumental. Bandoneón e violão. Para ser ouvido, escutado, e se deixar levar por suas texturas suaves e reveladoras dos mais secretos tesouros das harmonias que permaneciam escondidas em algum lugar do tempo passado.

Miniconto: Memória – Música: Victor Heredia, Nito Mestre & Leon Gieco

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Não guarda descanso. Acumula silenciosa, ao longo dos invernos, as provisões para os dias sem  sol. Guarda paciente o chamado escondido em algum porão da imagem. Não vive mais atenta, é despertada até ser esquecida. Como uma vertigem, troca de forma, penetra mais para dentro do dentro da chama até perder a luz. As distâncias e as idades desencontram-se em alguma parte do caminho e então tudo passa a ser sonho. Os sentidos são revistos, passados a limpo como um rito de passagem. Nesses dias, as estações balançam, encobrem suas ferrugens. O tempo não para e não há mais retorno. Os sinais chegam aos ossos, escorrem pela carne sentindo a ardência do sal. Os cascos continuam rebeldes. Os potros esticam a corda até encontrarem a liberdade. No pampa, a memória é uma morada abatida pelo vento da palavra e pelo tempo. Talvez nessa quase noite quebre o silêncio e assim como veio desapareça, levando as palavras coaguladas do destino que coube viver. Os campos não são mais os mesmos. Apenas histórias que passam de voz em voz através das memórias e de tênues lumes sobreviventes do que um dia foi e que sempre desejou ser realidade. (Dedicado à memória do meu pai, Mário Rossano.)

 

Foto: Chronosfer – Bento Gonçalves/RS

Dúo Fébula Y Aravenis : as guitarras do Prata

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A proximidade entre os rios Guaíba, do lado de cá, e do Prata, do lado de lá, nunca foi distância para mim. Sempre olho a Argentina e o Uruguai com a densidade de afeto que merecem. A história da minha vida tem toda essa gana que os platinos possuem, e minhas origens também têm suas vidas enraizadas por lá antes de se estabelecerem aqui. E tenho muitos amigos nesses lados todos. O Marcelo chegou pelo irmão, ambos “periodistas” de turfe, o roteiro dos grandes prêmios pela América adentro. E eu, apesar de pai jóquei e treinador, nunca fui um turfista no sentido vivo da palavra, embora sinta um amor infinito pelos cavalos. E o pampa me desafia, o imaginário incendeia e tudo o mais. Se não entrei nas pistas de corridas, caminho pela música, pela literatura, gostos dos cafés e do movimento dos porteños e orientais, gosto das livrarias que desvendam os mistérios da noite com suas portas abertas, assim como gosto do nosso mar, da nossa arquitetura, na nossa harmonia musical tão diversificada em cada região, dos nossos criadores das palavras. E ainda posso pôr nesse gostar, o Chile, cuja história me sensibiliza, cujo povo me habita. o Peru, com seus mistérios e fascínios pelo desconhecido alimentado pelos incas, quéchuas, aymaras. A Bolívia e toda a essência de uma América que se constrói por seu povo que mesmo sofrido tece suas cores de forç e determinação. Sou um latino-americano nascido no estado mais ao sul do país, e que procura cada vez mais o sul deste sul que me envolve. Assim, é a música que me aproxima de tantos movimentos nessa direção. Agora, por esses primeiros dias de inverno, o Marcelo está em Porto Alegre. Na bagagem, histórias e histórias. E muita música. Trouxe, via e-mail, o Dúo que faz com Walter Daniel Aravenis. E podemos entrar em um universo de cordas que vibram tangos, milongas, canções. Amigos e com pelo menos dez anos juntos um acompanhando o outro, vão criando a seu modo um repertório acústico com a beleza espontânea da vida. É para todos os que aqui chegam que ofereço os sensíveis violões de Marcelo e Aravenis em um espaço chamado Guitarra a La Carta, local onde se vende violões. Uma viagem pelo Prata.

https://www.youtube.com/watch?v=qBequz7GFsQ – aqui um apresentação em uma emissora de rádio. Para quem deseja conhecê-los um pouco mais.

Mirta Alvarez: Guitarra

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Mais que quantidade, a qualidade dos guitarristas platinos, e aqui estou mais para os lados da Argentina sem deixar escapar o Uruguay, também rico em instrumentistas, impressiona. Na mesma medida em que mesmo possuindo formação clássica, com o erudito presente, é na música popular ou no folclore que, em meu juízo demasiado pessoal, são desenvoltos e criativos e oferecem novas possibilidades de audição. Essas leituras da música são caminhos para o conhecimento, para conhecer as diversas faces que os temas oferecem, sem que fronteira alguma de gênero ou estilo possa confiná-las em si mesmas. Mirta Alvarez se inscreve nesse clube. Faz parte de uma geração que passou pelos bancos acadêmicos porém não deixou de olhar e sentir o coração do seu país. Da gente dos pueblos mais simples e dos compositores que modificaram a paisagem musical não apenas do Prata, mas de quem quer que os escute. Não por acaso ao estudar em conservatórios e escolas de música, Mirta se especializou em guitarra tango. Não por acaso muito dos seus mestres ou diretores são nomes enraizados na vida platina: Abel Fleury, Rodolfo Mederos, Kelo Palacios, para citar apenas três deles. Guitarra é um belo e sereno passeio pelas cordas do tango, da música popular, por Piazzolla, por Fleury, por Horácio Salgán, por Cobián/Cadícamo, por Atahualpa Yupanqui. Não falta absolutamente nada para seus acordes vibrem com intensidade e possamos ingressar juntos nesse universo rico e denso de um povo igualmente rico e denso.

Trio Cumbo: Los tiempos cambian

Cumbo

O título é atual. É a vida que segue. E seguimos também. O disco de Jorge Cumbo, argentino de nascimento e alma, tocador exímio de quena, maestro, compositor, arranjador e um punhado de mais atividades, é a essência de que os tempos mudam. Recebem ventos, que podem ser novos ou mais envelhecidos, mas que forçam às mudanças. Na música, na política, na cultura, na educação, na saúde, na segurança, na vida. Talvez esteja não apenas no título de um disco argentino que comprei na França – foi lançado em 1995 – a resposta para muitas das inquietações que se manifestam não apenas hoje, com certeza se manifestarão amanhã se a possibilidade existir. O mais curioso desse trabalho, significativo para além das palavras, até por se tratar de temas instrumentais, é a trajetória do repertório em seus nomes igualmente significativos. “La antigua”, “Trifasico”, “Pintandome el alma”, “Luz de la noche”, “La vuelta de los tachos” e, óbvio, “Los tempos cambian”. Existe uma combinação nesse entrelaçamento de canções que vejo quase como um aviso. Tenho a consciência de que os tempos mudam. Porém, não voltam para trás. Os tempos não vestem jamais o verde autoritário do passado recente. Não os tempos que me restam viver. E ao escutar o Trio Cumbo sinto uma renovação para muito adiante de qualquer palavra escrita. Cumbo tocou no emblemático grupo Urubamba, que acompanhou Paul Simon. Período esse em que havia uma curiosidade com a música latino-americana, deixando um pouco de lado as rumbas, salsas, merengues, cumbias, e essa curiosidade chegou a estereotipar o latinismo musical em “El condor pasa”, gravação de Simon & Garfunkel. À época, chegou ao esgotamento e o “hino” era já exaustivo aos ouvidos mais apurados e conscientes e exigentes. A nossa América estava abaixo de mau tempo. Todavia, por alguma razão os exilados latinos em Europa produziam muito. Quando do certeiro e fatal golpe de Pinochet no Chile em 1973, que rasgou a constituição de bombardeou o La Moneda e Salvador Allende, grupos como Inti Illimani e Quilapayun estavam no continente europeu e por lá permaneceram até os anos oitenta e poucos. Fica para outro post esse assunto. A produção deles encantava o público. E trabalhos sólidos em sonoridade e poética estavam circulando livremente. Aqui, o silêncio, a censura, o confinamento. De tudo. Los tiempos cambian. É verdade. Avançamos. Cumbo avançou. Participou de diversas formações, com Lito Vitale, Gerardo DiGiusto, Ricardo Moyano, com o pianista Manolo Juárez, Leo Masliah, Lucho Gonzaléz. Eis aí um trio extraordinário: Cumbo-Vitale-González. Jorge é sinônimo dessa versatilidade toda que envolve a música, suas descobertas sonoras, suas texturas com os sopros sem jamais descansar. É um dos músicos mais importantes do folclore argentino. O que se escutar de sua obra é com certeza estar “cambiando los tiempos”. Tempos melhores. Mais uma vez, a Argentina e sua riqueza musical abraça o que há de melhor na vida: o viver.

 

León Gieco: Por partida triple

Partida

Conheço o trabalho de Leon Gieco desde sempre , acredito. Não lembro exatamente a data em que suas canções entraram em minha vida, lembro apenas de que quando meus amigos iam a Buenos Aires pedia para que nas suas bagagens de retorno estivessem algum vinil ou cassete dele. E assim vinham aos poucos alguns dos seus discos. Isso preenchia aqueles anos confusos e de transição que foram os oitenta por aqui no Brasil. Somente em 94 é que estive com Leon. Primeira entrevista, cds nas mãos – Desenchufado e Mensajes del alma – e palavras que faziam tanto sentido quanto a necessidade de transformar não apenas o meu país mas toda a América Latina. Não sei exatamente quando ultrapassei a fronteira entre o jornalista e o admirador confesso, quando o entrevistei naquele inverno rígido que descansava na capital portenha. Sabia no entanto que a palavra de Leon mais que um eco irradiava seus raios por todos os espaços que eu pisava ou frequentava. E ao mesmo tempo sofria com um mal que até hoje permanece: a cultura latino-americana não transita livremente entre os países. Não encontro nenhum disco de Gieco nas lojas de Porto Alegre como se fosse disco brasileiro, e sim como importado o que eleva seus preço a valores que os faz adormecer nas prateleiras. Foi em uma ida a Montevidéu que comprei Por partida triple coletânea magnífica dividida em três partes, significa três cds, que abrem o arco infinito de sua obra: Rock, Folclore e Rutas. Nas 47 músicas escolhidas, as faixas distribuídas conforme o trio de gêneros, vão desde gravações inéditas, canções suas gravadas por outros artistas e ele como convidado, versões ao vivo e que jamais estiveram antes em registros oficiais, gerações distintas de artistas e por aí o trabalho vai se desenvolvendo a tal ponto que fica impossível desligar o player. É natural que haja passagens da carreira do músico nascido em  Cañada Rosquín, província de Santa Fé, em que seus trabalhos não sejam alçados a categoria maior, sem jamais entretanto afetar seu compromisso social expresso em sua poética contundente e densa. Difícil escolher qual dessas mais de quarenta composições escolher essa ou aquela. O que já estava explícito no seu Por partida doble ou em qualquer outro de seus discos,com a mesma intensidade de respostas e questões, e também com generosas passagens de amor e de paisagens naturais, a sua obra se revela coerente. O social, a razão de viver do ser humano está em primeiro lugar. E sua harmônica e o violão não deixam um único acorde de fora desses versos tão sólidos e definitivos. Uma caixa com três cds e um oceano de sentidos a nossa espera.

Raúl Barboza, a Argentina na França

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Conheço o acordeón de Raúl Barboza desde sempre. das vezes que andou por aqui, em Porto Alegre, e sei lá quantas outras vezes na Argentina. Lembro que certa feita, um jornalista daqui, escrevera que ele é uma espécie de Piazzolla e fiquei ainda mais aguçado com seus trabalhos. Todos de uma riqueza musical que não admite fronteira alguma. O portenho de nascimento tem no chamamé e na música litorânea seus caminhos. Deles, fez tantos mais. É uma referência sua “Merceditas”, versão que o tornou mais próximo da universalidade a partir da música popular. Aliás, consagrando o que todo mundo já sabe: do popular ao universal. Foi viver na França em 1987 e não apenas fez e faz carreira como colecionou inúmeros prêmios. Pois, em 2010, caminhando por Paris e entrando em de tantas das suas lojas de discos, encontrei o recém lançado à época Invierno em Paris. Foi direto para a bagagem e contando as horas para chegar em casa e ouvir. Álbum de 14 faixas, a maioria compostas por ele e por seu companheiro de gravação, o violonista Horácio Castilho, é um belíssimo passeio várias possibilidades do popular, do folclore, do tango moderno e de ruptura de Piazzolla – “Adios Nonino” apresentado em pouco mais de seis minutos é fantástico – um que das influências brasileiras de “Brasilereando”, a saudade em “Mi tierra lejana” e um grande número de canções do interior platino. Um disco magnífico, suave, feito para dentro de cada um de nós e ao mesmo tempo alegre e vivo. Abaixo algumas das interpretações de Raulito, também como é conhecido.



Soledad Villamil: Cancion de viaje

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Soledad Villamil é conhecida pela sua atuação no belíssimo O segredo dos seus olhos, em atuação com Ricardo Darín, de Relatos Selvagens. Estou sendo injusto. Demasiado injusto. Ela possui trânsito livre nas mais diversas áreas de expressão artística: teatro, cinema, música e televisão, por exemplo. Dona de talento superior, é capaz de realizar qualquer trabalho com a mesma intensidade que as exigências pedirem. Sem deixar nenhuma espécie de dúvida quanto ao resultado final. É uma artista completa. E, seus primeiros passos, na complexa vida na arte começa desde criança na música, estudando vários instrumentos musicais e por aí caminha, passando por outras tantas expressões da arte. Em uma dessas rápidas passagens, não lembro se por Buenos Aires ou Montevidéu, encontrei o disco Cancion de viaje, seu terceiro solo. É um disco que apresenta uma diversidade imensa em seu repertório repleto de paisagens e sobretudo com uma forte carga emocional. Um verdadeiro mix de compositores, em versões com a identidade de Soledad, e canções próprias escritas durante suas viagens. Entre os escolhidos estão Pablo Milanés e o poeta Nicolás Guillen, e Violeta Parra. Há uma passagem de “Biromes y servilletas”, das melhores do álbum, que tem a assinatura de Leo Masliah, que me trouxe um pouco do meu passado de repórter. Leo estava com apresentação marcada aqui em Porto Alegre, no Teatro Renascença. A pauta que recebi para a Revista Porto&Vírgula, então editada pela Secretaria Municipal da Cultura da capital gaúcha, era entrevistar o músico. Depois de trinta minutos de perguntas e respostas monossilábicas do tipo sim, não, não sei, não conheço, desisti de continuar. A noite, no show, o deslumbramento diante de tanto talento e disposição. Era outro Masliah. Fiquei sem a entrevista e ganhei um belo show. Agora, ao escutá-lo na voz de Villamil o passado se torna tão presente e apenas confirmo o que a quase unanimidade faz em relação a argentina de La Plata: extraordinária. As dez faixas passam rápido demais. Porém, são minutos preciosos que repercutem dentro de quem escuta que apenas saber que o disco está sempre por perto é motivo de alegria e felicidade. Soledad Villamil é patrimônio cultural da nossa América.



Piazzolla Plays Piazzolla: Escalandrum

Pino

Um catálogo para ninguém pôr defeito mostra a qualidade e o que é o Escalandrum. Para quem pensa que por ser um grupo de jazz criado aos fins dos anos noventa passados pelo neto de Astor Piazzolla está isento de críticas está enganado. Todavia, os instrumentistas que seguem Daniel “Pino” Piazzolla são músicos, compositores e intérpretes de primeiro time. As influências do avô são evidentes, mas em nada, absolutamente nada, traz qualquer inconveniente ao processo de criação e execução do grupo. Desde o seu início se destacou com discos soberbos e de densidade que apenas revelam que o DNA Piazzolla é forte. Até chegar a sua talvez obra-prima Piazzolla plays Piazzolla foram dez anos de trabalho, de experiências, viagens, estar em palco com Dave Holland e John Scofield, por exemplo, materializou toda a proposta de fusão que foi o começo de tudo. Se Astor Piazzolla nos anos 50 e 60 mexeu com todas as estruturas do tango convencional, introduzindo a ele as linhas mágicas e de improvisação do jazz, criando, assim, uma nova linguagem, o Escalandrum não fugiu do seu destino. Com o mesmo intento, porém, mais atuais – afinal estamos no século XXI – a fusão entre o jazz, o tango, o folclore e outros ritmos continua sendo a razão de ser de Pino, Mariano, Martín, Nicolás, Damián e Gustavo. E nada acontece por acaso. Desenvolvem com identidade própria suas canções e as do mestre com tanta espontaneidade que dão aos ares da capital portenha e ao país platino um sabor diferente e novo. Trajetória que impõe sobretudo intensidade ao processo de criação, o Escalandrum se inscreve como um dos maiores grupos da América do Sul. Vale escutá-los e repetir quantas vezes o player estiver acionado na tecla repeat.