Tim Buckley viveu pouco tempo. Aos 28 anos deixou para trás a vida e todo o talento, por vezes incompreendido, do seu folk/rock do início de sua carreira à maneira de Bob Dylan. Oouco depois, a sonoridade foi se transformando até chegar ao cool jazz, certamente influenciado por Miles Davis, no magnífico Happy Sad de 1969. Seu disco é uma profunda reflexão sobre o amor, lembranças, encontros, distantes avenidas em que as melodias vão também marcando encontro com sua sensibilidade. Seus trabalhos seguintes continuaram com as linhas do jazz porém, mais próximo do fim, retorna ao pop. O pai de Jeff Buckley, também partiu cedo, deixou um legado de harmonia e beleza a ser guardado bem fundo dentro de nós.
A primeira reação ao escutar o nome de Brad Mehldau é pianista de jazz. O que não deixa de ser verdade. Desde cedo estudou piano, primeiro os clássicos, depois o ingresso nas escolas entre elas a Berklee College of Music e a New School for Jazz & Contemporary Music. Teve brilhantes professores. Mas, quando frequentava a New School for Social Research que Jimmy Cobb o convidou a integrar sua banda. Jazz. Depois, a lista de nomes cresceu: Joshua Redman, Charlie Haden, Lee Konitz; gravou com Wayne Shorter, John Scofield e Charles Lloyd. Passos importantes para nos anos 90 criar o seu trio com o baixista Larry Grenadier e o baterista Jeff Ballard. E os discos foram chegando. Sempre com repertório clássico do jazz, com uma leitura muito particular e especial de Mehldau. Por vezes, ao escutar seu piano, fica a sensação de que os demais instrumentos são apenas acessórios, complementos, sem demérito algum aos grandes instrumentistas que o acompanham. Brad é capaz de fazer de cada tecla do seu piano um campo semeado de texturas únicas. Influências de Schubert, Oscar Peterson, Keith Jarret, Miles Davis, John Coltrane e uma inapropriada comparação com o “jeito” de tocar com Bill Evans, podem ser o início de uma explicação para o que é Brad Mehldau. Em torno das improvisações, seu talento se transforma e o piano passa a ser muito mais que um instrumento. universal, também se alimenta da música brasileira para suas composições e arranjos. Qualquer disco de Mehldau – The Art of The Trio – é um presente daqueles que a gente guarda para ocasiões muitos especiais. Sua música é poesia.
Está bem, o título pode estar exagerado, assumo o exagero consciente. Tive a felicidade de, quando editor da Revista Porto&Vírgula, à época da sua edição pela Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre, entrevistar e almoçar com Hermeto Pascoal em duas oportunidades. Isso nos anos 90, em que aqui esteve para shows, em especial no então velho Auditório Araújo Vianna sem cobertura, com bancos de madeira fissuradas pela ação do tempo. O tempo todo em que esteve disponível à imprensa mostrou-se alegre, irreverente, inquieto, persuasivo, feliz. Impossível levar adiante uma conversa com ele sem cair no riso com suas bem humoradas frases e efeitos sonoros que criava a cada instante com qualquer objeto que aparecia em sua frente. Uma experiência marcante e sobretudo humana de alguém que acima de tudo o tempo todo em que esteve sendo entrevistado jamais ficou contrariado com qualquer pergunta. E respondia com o jeito Hermeto de ser. Muito próximo de beijar os oitenta anos, na verdade será em 22 de junho de 2016, esse filho das Alagoas, nasceu para o mundo. Sem qualquer exagero. O som, seja ele qual fosse sempre foi uma fonte de atração desde pequeno. Nada escapava. Até que um dia partiu para o Rio de Janeiro tocar sanfona, que já havia aprendido com seu irmão lá em Lagoa da Canoa, hoje Arapiraca, no Regional de Pernambuco do Pandeiro (na Rádio Mauá) e, em seguida, piano no conjunto e na boate do violinista Fafá Lemos e, em seguida, no conjunto do Maestro Copinha, flautista e saxofonista, no Hotel Excelsior. Alguns anos depois, em 66, cria o Quarteto Novo com nada mais nada menos que Airto Moreira, Heraldo do Monte e Théo de Barros (basta uma pequena ida ao Mr. Google para descobrirem a relevância de cada um em nossa música.) Pouco depois, partiu para os Estados Unidos, gravou com Flora Purim e Airto, conheceu e gravou com Miles Davis, e a partir daí ganhou o mundo. A sua obra é universal com profundas raízes brasileiras. Absorveu as influências, em especial do jazz, mas se manteve com um brasileiro fincado em sua terra. De criatividade incansável, não há o que não possa transformar em música e harmonias o que sente e o que cai em suas mãos. Não por acaso, pensando melhor, é mesmo o nosso mago Merlin da música.