Turfe: a História também se conta com as derrotas

Rio Volga 1

Hoje, dia 26, mais um mês. Um ano e seis meses que o pai partiu. A saudade então passou a ser como uma contagem progressiva, aumenta a cada dia que passa. Mesmo quando por vezes se acomoda no leito dos pensamentos, está presente. Ergue-se sempre com a intensidade do látego quando necessário o seu uso para cruzar a linha de chegada. A vida se revela em toda a sua plenitude. Assim aprendemos a acreditar no possível e mesmo quando a mesma linha de chegada parece estar distante e não cruzar à frente. A trajetória de Mário Rossano é repleta de histórias. De muitas histórias vencedoras. E também de derrotas. Das mais inesperadas às mais prováveis. E é de uma delas, que para todo o sempre no mundo do turfe do Rio Grande do Sul, jamais será esquecida que está aqui hoje. E que o pai contava como “coisas de carreira”.

Breno Caldas era proprietário de um império da comunicação do sul: a Caldas Júnior, que editava entre outras publicações, o Correio do Povo. Também possuía um haras, o Haras do Arado. Apaixonado por cavalos de corrida, importava garanhões e fêmeas para criação e craques da tradicional blusa Rosa, ferraduras pretas, brilhavam nas pistas do velho, querido e saudoso pradinho dos Moinhos de Vento. Entre eles, um potro criado para ser exceção: Estensoro.

Estensoro Foto A

ESTENSORO – m/alazão, do RS, nascido em 22 de julho de 1955 – por ESTOC (FR) em PERFIDIA (FR), por NIÑO. 

Criação e propriedade: HARAS DO ARADO 

Estreia: 13 de abril de 1958, prova comum sobre 1200 metros – 2º para SENHORAÇO (castanho, Senhorial e Notória).

Turfe Record:

Apresentações: 14 (13 Moinhos de Vento e 1 na Gávea)

Vitórias: 12 (11 clássicas, incluindo a 2º Triplice Coroa Rio-Grandense)

Colocações: 1 (2º Moinhos de Vento)

Descolocado: 1 (14º Gávea em 2/8/59 Grande Prêmio Brasil para NARVICK).

Acima, o resumo da campanha do alazão do Arado, e na foto está seu jóquei oficial, Antônio Ricardo. Abaixo a História como aconteceu sua estreia, única derrota nas pistas gaúchas contada pelo seu proprietário e criador e a palavra do jóquei que o conduziu em sua única derrota.

No livro Breno Caldas – Meio século de Correio do Povo, depoimento a José Antônio Pinheiro Machado, L&PM Editores, 1987, reproduzimos a parte em que se refere a Estensoro:
PAqui nestas terras o senhor fez surgir um dos mais importantes campos de criação de cavalos de corrida do país, o Haras do Arado….
Breno Caldas – Eu comecei a criar cavalos em 1937…Sempre gostei de cavalos, montava quando jovem. Era cavaleiro, participava de competições hípicas. Quando vim para o Arado, construí cocheiras e resolvi começar a criar. O Haras do Arado teve alguns reprodutores de muita qualidade: Dark Warrior, ganhador do Derby Irlandês, pai do Ouroduplo e de outros ganhadores clássicos; Estoc, cavalo francês, invicto na Inglaterra, pai de craques como Estensoro, Estupenda e outros – o Estoc só deu bons cavalos: Elpenor, ganhador da taça de Ascot, pai de muitos cavalos clássicos, como a Corejada, o El Trovador (ganhador do Derby Carioca), o El Centauro (2º lugar do GP Brasil e no GP São Paulo) …
PO Estensoro foi o melhor de todos os cavalos que o senhor criou
Breno Caldas – Sem dúvida. O Estensoro, aqui, no tempo do prado do Moinhos de Vento e depois, no Cristal, onde ele chegou a correr, ganhou todas as provas possíveis, incluindo o GP Bento Gonçalves, o GP Protetora do Turfe, e foi Tríplice Coroado gaúcho. O Estensoro era filho de Estoc, um cavalo criado pelo Marcel Boussac – um dos mais importantes criadores do mundo – que eu importei da França na década de 50. Foi o melhor reprodutor que eu tive, uma verdadeira loteria que eu aceitei ao escolhê-lo entre vários outros. O Estoc tinha um problema de bambeira e produziu muito pouco, teve apenas treze filhos, mas todos ótimos cavalos, ganhadores clássicos. nenhum matungo. Além do Estensoro, o Estoc produziu outros muito bons: Estandarte, Ângela, Estrôncio…
P – O Estensoro só perdeu na estreia, ainda no prado dos Moinhos de Vento, para um cavalo chamado Senhoraço
Breno Caldas – …exato. Naquele dia, o jóquei oficial da nossa cocheira, o Antônio Ricardo, estava suspenso, e um outro jóquei, Mario Rossano, montou o Estensoro. Eu sempre proibi os jóqueis de baterem nos meus cavalos, especialmente nos potrinhos mais novos. Na largada, o Rossano deu um laçaço no Estensoro e ele, que não estava acostumado a apanhar, estranhou e ficou parado na partida. O páreo era em 1.100 metros e quando o Estensoro largou, os outros já iam uns 50 metros na frente. Saiu atrás e foi indo, foi indo, recuperando terreno e quase ganhou: acabou perdendo por focinho. Depois dessa estreia azarada, o Estensoro não perdeu mais aqui no Rio Grande do Sul. Quando ele foi para o Rio disputar o GP Brasil em 1959, um outro cavalo daqui, Lord Chanel, começou a ganhar todos os clássicos e houve quem dissesse que ele era melhor que Estensoro. Aí mandei o Estensoro de volta do Rio para cá, para disputar o GP Bento Gonçalves. Não deu outra: o Estensoro venceu em tempo recorde, deixando longe o coitado do Lord Chanel, que fez tanto esforço para acompanhá-lo que teve hemorragia…
Mário Rossano –  “Montei Estensoro, que perdeu comigo na estreia, mas foi estreia, mais tarde o doutor Breno Caldas escreveu que perdi porque bati no cavalo. Não bati, se tivesse batido ele teria vencido. Ficou essa marca de ter vencido todas as provas menos a que foi dirigido por mim. ” (Em depoimento realizado quando dos seus oitenta anos de vida, para o livro Dá-lhe Rossano, 2011, editado por Mário Rozano, e que por ter ficado longo não foi publicado. Está na íntegra, tal como foi degravado, sem as devidas correções para preservar o original, neste site.)
Estensoro nunca correu contra Lord Chanel, que foi monta oficial do Rossano em vários GPs, inclusive vencendo duas vezes o GP Protetora do Turfe, já no Hipódromo do Cristal, e o GP Bento Gonçalves de 1961, o  qual foi desclassificado em decisão polêmica e injusta da então Comissão de Corridas em favor de Argonaço.
Estensoro nunca disputou uma prova no Hipódromo do Cristal, tendo feito apenas um “passeio” de despedida das pistas, levantando os pavilhões do prado, sob a monta de Clóvis Dutra.
Mário Rossano montou e venceu provas clássicas com vários cavalos do Haras do Arado, entre eles Estupenda e Ângela.
Breno Caldas se equivocou em vários detalhes do seu depoimento, como a distância da prova de estreia de Estensoro que foi em 1.200 metros e não em 1.100 como afirmou, entre outras observações feitas a Lord Chanel.
Conversamos várias vezes sobre esta corrida. Antes o pai ficava chateado, triste, mas bem mais próximo de ele cruzar a sua linha de chegada já sorria. Um dia me disse que perder fazia parte e que não significava que tudo estava acabado. “Afinal – disse – todos os dias amanhece e tudo recomeça outra vez, inclusive as vitórias.”
Bento 1958 1º Estensoro 2º Dark Sauce
Na foto acima, o único GP Bento Gonçalves vencido por Estensoro, em 1958, o último disputado no Moinhos de Vento, secundado por outro dos craques do Haras do Arado, Dark Sauce, sob a monta de Mário Rossano, com a blusa preta, ferraduras rosa.
Agradecimento especial ao meu irmão Mário Rozano, que preserva como ninguém a memória do nosso pai.

Miniconto: Memória – Música: Victor Heredia, Nito Mestre & Leon Gieco

PEN FOTOS 007

Não guarda descanso. Acumula silenciosa, ao longo dos invernos, as provisões para os dias sem  sol. Guarda paciente o chamado escondido em algum porão da imagem. Não vive mais atenta, é despertada até ser esquecida. Como uma vertigem, troca de forma, penetra mais para dentro do dentro da chama até perder a luz. As distâncias e as idades desencontram-se em alguma parte do caminho e então tudo passa a ser sonho. Os sentidos são revistos, passados a limpo como um rito de passagem. Nesses dias, as estações balançam, encobrem suas ferrugens. O tempo não para e não há mais retorno. Os sinais chegam aos ossos, escorrem pela carne sentindo a ardência do sal. Os cascos continuam rebeldes. Os potros esticam a corda até encontrarem a liberdade. No pampa, a memória é uma morada abatida pelo vento da palavra e pelo tempo. Talvez nessa quase noite quebre o silêncio e assim como veio desapareça, levando as palavras coaguladas do destino que coube viver. Os campos não são mais os mesmos. Apenas histórias que passam de voz em voz através das memórias e de tênues lumes sobreviventes do que um dia foi e que sempre desejou ser realidade. (Dedicado à memória do meu pai, Mário Rossano.)

 

Foto: Chronosfer – Bento Gonçalves/RS

Mercedes Sosa, León Gieco & Abel Pintos

page

Na ausência das palavras, são relâmpagos agora, música latino-americana para uma sexta-feira ensolarada. Com chuva à vista. Inverno, apenas.

Mercedes Sosa – “Todos los días um poco”

León Gieco Y Abel Pintos – “Cuando llegue el alba” e “Como um tren”

Mercedes Sosa, León Gieco, Eugénia Melo e Castro, Dulce Pontes, Joan Baez, Tom Jobim….

Hoje, apenas música. A que nos envolve. A que nos revela. A que nos transforma. A que nos lança através dos tempos. A que nos faz parar. A que nos faz pensar e discernir. A que nos comove. São tantas. Escolho as que nos aproximam latino-americanos e portugueses, como um caminho sem volta de integração e alma. Identidades que se reconhecem e andam pelas mãos da arte. Margens que se encontram.

Cecilia Zabala: Aguaribay, Argentina que se renova

ceciliazabala

O primeiro disco solo de Cecilia Zabala aponta o seu destino: o olhar renovado para o passado, o presente e já ingressando no futuro. A cantautora nascida em Buenos Aires mescla elementos do folclore, do tango, música popular brasileira e contemporânea com arranjos e interpretações muito pessoais. Lança seu olhar ainda sensível aos novos, aos que renovam, como ela, a sonoridade sem perder de vista a origem ainda que se mostre afastada delas, há um profundo sentimento de raiz em suas harmonias. Aguaribay é um oceano de clássicos, composições próprias e texturas tranquilas que cruzam o Prata em direção ao mar. Cuchi Leguizamon, Atahualpa Yupanqui, Diego Penelas, Cacho Echeñique, Juan Quintero, Julio Espinosa e mais convidados do porte de Silvia Iriondo (em breve por aqui), Quique Sinesi e Juan Falú são credenciais que revelam o talento de Cecilia e seu trabalho. Instrumentista, traz junto uma gama infindável de influências, fruto de inúmeras excursões ao exterior, e ao interior da sua Argentina. Mesclar esse universo todo faz de CZ um nome de ponta no cenário platino.  E sempre em busca do novo, ou fazer a renovação a partir de canções passadas.

Cecilia-Violeta

O disco Violeta é o resumo de quem é Cecilia Zabala. O que disse León Gieco sobre, ao produzir o trabalho: “Un día revisando mi biblioteca encontré un libro que contenía
composiciones originales para guitarra de Violeta Parra.
No recuerdo bien cómo llegó a mis manos, pero al instante pensé
que era importante dar a conocer esas músicas. Al tiempo
se lo mostré a Osqui y a él se le ocurrió que Cecilia sería ideal
para este proyecto. Estas dieciséis piezas, la mayoría creadas
antes de su segundo viaje a Europa en 1961, constituyen un lado
desconocido de su obra. En ellas se puede percibir su gran creatividad
y capacidad de síntesis. Que hayamos podido hacer este disco
me hace muy feliz por lo que significa la música de Violeta Parra
en la cultura latinoamericana”

Um trabalho a altura do que há de melhor e mais encantador quando se trata de mexer em canções de consagrados e dar a elas uma roupagem nova e então se percebe o quanto a música chilena, argentina e uruguaia de tanto tempo atrás continua atualíssima. E renovador. Cecilia Zabala, uma cantautora para ser presente. Ainda há muito o que escrever, mas creio que a também docente de música, apresente a si mesma nos vídeos abaixo.

Folclore de Cuchi Leguizamon por Pablo Márquez

Dieciseis-composiciones-Leguizamon-Pablo-Marquez_CLAIMA20150506_0472_28

O campo do folclore é imenso, vasto, e muitas partes dele ainda inexplorável. Permanece intacto, resistindo a passagem do tempo. Para muitos, confinado ao determinado espaço geográfico, para outros, devendo ganhar outros espaços maiores e amplitude geográfica. A primeira vez que ouvi o Cuchi  Leguizamon foi pelo León Gieco e o seu trabalho insinuante e significativo da música argentina chamado De Ushuaia a La Quiaca onde, acompanhado de alguns músicos do porte de Gustavo Santaolalla e a extraordinária folclorista Leda Valladares, percorreu o país de norte a sul, leste a oeste recompilando e mesmo deixando no original o folclore do país platino. São várias as regiões e as culturas que ali residem. O salteño Cuchi é um desses nomes sagrados. Um homem que trabalhou de forma incessante sua obra, reinventado-a sempre a partir do tradicional até atingir um ponto acima, criando diálogos com os seus movimentos que são pura poesia. É a partir das composições de Leguizamon que o guitarrista Pablo Máquez gravou uma verdadeira pérola musical: El Cuchi bien temperado. O argentino, também natural de Salta, vive na Europa, mais ligado ao clássico, nesse trabalho volta seu olhar para dentro da Argentina e encontra o fascínio que Cuchi desperta. O titular do instrumento que toca na Academia de Música da Basileia, Suíça, se vale das zambas, chacareras, vidalas, bailecitos, cuecas e carnavalitos do mestre e cria um disco admirável pelo caráter original ao mesmo tempo em que mantém as “interioridades” criativas de Leguizamon tal como as concebeu. Claro que muda aqui e ali os tons, os timbres, as texturas, mas não perde em nenhum momento de vista as composições para outras derivações que o improviso, por exemplo, poderia propor. Manteve o equilíbrio entre as criações de Cuchi e a sua linguagem com o seu projeto, e, sobretudo, não abre mão do seu jeito de mostrar como sente ao tocar a obra do compositor salteño. Um disco de riqueza musical, erudito passando longe do acadêmico, e oferece tantas possibilidades de interpretação e leituras que valoriza Cuchi Leguizamon como um folclorista com muita densidade clássica. Um álbum magnífico. (o último vídeo é o próprio Cuchi ao piano.)

León Gieco: Por partida triple

Partida

Conheço o trabalho de Leon Gieco desde sempre , acredito. Não lembro exatamente a data em que suas canções entraram em minha vida, lembro apenas de que quando meus amigos iam a Buenos Aires pedia para que nas suas bagagens de retorno estivessem algum vinil ou cassete dele. E assim vinham aos poucos alguns dos seus discos. Isso preenchia aqueles anos confusos e de transição que foram os oitenta por aqui no Brasil. Somente em 94 é que estive com Leon. Primeira entrevista, cds nas mãos – Desenchufado e Mensajes del alma – e palavras que faziam tanto sentido quanto a necessidade de transformar não apenas o meu país mas toda a América Latina. Não sei exatamente quando ultrapassei a fronteira entre o jornalista e o admirador confesso, quando o entrevistei naquele inverno rígido que descansava na capital portenha. Sabia no entanto que a palavra de Leon mais que um eco irradiava seus raios por todos os espaços que eu pisava ou frequentava. E ao mesmo tempo sofria com um mal que até hoje permanece: a cultura latino-americana não transita livremente entre os países. Não encontro nenhum disco de Gieco nas lojas de Porto Alegre como se fosse disco brasileiro, e sim como importado o que eleva seus preço a valores que os faz adormecer nas prateleiras. Foi em uma ida a Montevidéu que comprei Por partida triple coletânea magnífica dividida em três partes, significa três cds, que abrem o arco infinito de sua obra: Rock, Folclore e Rutas. Nas 47 músicas escolhidas, as faixas distribuídas conforme o trio de gêneros, vão desde gravações inéditas, canções suas gravadas por outros artistas e ele como convidado, versões ao vivo e que jamais estiveram antes em registros oficiais, gerações distintas de artistas e por aí o trabalho vai se desenvolvendo a tal ponto que fica impossível desligar o player. É natural que haja passagens da carreira do músico nascido em  Cañada Rosquín, província de Santa Fé, em que seus trabalhos não sejam alçados a categoria maior, sem jamais entretanto afetar seu compromisso social expresso em sua poética contundente e densa. Difícil escolher qual dessas mais de quarenta composições escolher essa ou aquela. O que já estava explícito no seu Por partida doble ou em qualquer outro de seus discos,com a mesma intensidade de respostas e questões, e também com generosas passagens de amor e de paisagens naturais, a sua obra se revela coerente. O social, a razão de viver do ser humano está em primeiro lugar. E sua harmônica e o violão não deixam um único acorde de fora desses versos tão sólidos e definitivos. Uma caixa com três cds e um oceano de sentidos a nossa espera.

Silvio Rodriguez & Pablo Milanes: música para além da pele

Alguns discos habitam o meu imaginário. Para sempre. Ainda que mais tarde possa tê-los em mãos, continuam criando em mim muitos sentimentos. Silvio Rodriguez & Pablo Milanes En Vivo En Argentina é um deles. Gravado no Estádio de Obras Sanitárias em abril de 1984, três décadas para trás, nunca o encontrei no Brasil. Não sei sequer se foi lançado aqui. Amigos comuns no gosto pela música latino-americana me passaram um “cassete” de um dos discos – é um álbum duplo. E desde então iniciei a “caça” ao En Vivo dos cubanos. Tantas idas a Argentina, Uruguai, Chile, Peru, Bolívia, Paraguai resultaram em fracasso. É bem verdade que descobri algumas pérolas da linguagem musical da nossa América, mas o disco dos dois dos maiores cantores cubanos nada feito. Confesso que havia desistido e me conformado com o cassete guardado e não transformado em cd pela tecnologia. Até que ano passado estive em Colônia de Sacramento, às margens do Prata, e vendo do outro lado, com certo exagero, Buenos Aires. Em Colônia, entrei em uma livraria em busca do livro Las cartas que no llegaron do Mauricio Rosencof, recomendado em artigo escrito em Zero Hora pela escritora Letícia Wierzchowski em outubro de 2011 e que guardara. Levei comigo uma cópia do texto, e ao entrar em uma livraria da pequena e belíssima cidade uruguaia, que um dia foi nossa, não apenas encontrei o livro como em um canto quase escondido estava o cd duplo dos filhos da ilha caribenha. Fiquei confuso e a alegria do encontro chegou com um silêncio que me fez tremer o corpo todo. Depois da euforia, comprei ambos e guardei na bagagem. Porto Alegre em breve estaria em meu cotidiano outra vez e deixei para ler e escutar em casa. Assim foi. Assim é. Do livro, houve desdobramentos. Letícia fez para a Record uma alentada e sensível tradução. Tenho os dois e em algum momento estarão em Chronosfer. O disco, foi para o Ipod e é companhia obrigatória. Não todos os dias, claro, mas está presente.

Cubanos

A Argentina recém havia saído de um dos seus períodos mais duros, de uma ditadura militar ferrenha, e o show dos cantores possui um grande sentido simbólico à época em que foi realizado e em especial aos momentos atuais, em que a aproximação entre Cuba e Estados Unidos quebram, enfim, o gelo de décadas e abre novas perspectivas em suas relações.
Os representantes da Nueva Trova Cubana, já conhecidos em nossas terras, desfilam um repertório maiúsculo e convidaram músicos argentinos a dividirem o palco. Junto com Eduardo Ramos, Frank Bejerano e Jorge Aragon, Leon Gieco, Piero, Victor Heredia, César Isella, Cuarteto Zupay e Antônio Tarragó Ros abraçaram cada canção com o sentimento de unidade latina. Estão presentes “Todavia Cantamos”, “Unicornio” “Ojala” “Yo pisare las calles nuevamente”, “Años” “Carito” “La vida y la libertad”, “Pobre del cantor” e “Cancion com todos”. Um disco sim para se guardar do lado esquerdo do peito. Um disco amigo. Um disco que lança a semente da esperança e da paz, que tanto necessitamos.