Jean-Luc Ponty: The Best of The Pacific Jazz Years

Jean-Luc Ponty

Um violinista virtuose e elétrico no sentido pleno da palavra. Precursor na eletrificação do instrumento, Jean-Luc seguiu a trilha do jazz e da fusão do gênero com outros, como o rock. Estudioso de vários instrumentos, foi, no entanto, com o violino que seu nome encontrou ressonância. Tocar com sua grande influência – Stéphane Grappelli – foi uma passo gigantesco em sua carreira em ascensão. Agrupou-se com Frank Zappa, George Duke, tocou no Monterey Jazz Festival de 1967, criou o Jean-Luc Ponty Experience, andou bons anos com a Mahavishnu Orquestra, esteve com John McLaughlin, e acumulou experiências musicais que transformaram sua linguagem. Inquieto e criativo, mexeu com sintetizadores, gravou um disco histórico com Stanley Clarke, Al Di Meola – The Rite of Strings -, flertou com o pop (fez a sua leitura de “With a little help from my friends” dos Beatles), até que em 1991 fez Tchokola com músicos do oeste africano e ali ingressa em um novo estágio musical. Uma gama infinita de influências, outra gama genuína de criatividade fazem de Jean-Luc Ponty um instrumentista e criador além do seu tempo. Ouvi-lo é estar no futuro. E mergulhar para dentro de si mesmo.

Carlos Badia: Zeros

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Se alguém passar e perguntar se Carlos Badia é o mesmo do grupo de jazz Delicatessen a resposta é sim. O compositor, produtor e instrumentista faz algum tempo que trabalha suas canções. Ao deixar o Delicatessen, iniciou um mergulho no tempo e foi lapidando suas canções que forma descobertas na década de 90 e chegaram até estes anos 2000. Zeros, álbum duplo, pode ser visto como uma síntese destes anos ou um disco que percorre seus vários caminhos além do jazz. Um dos discos contempla sua criação instrumental, o outro transporta o ouvinte para o universo vocal. E a som de ambos condensa suas influências ao longo desse tempo todo: jazz, naturalmente, bossa nova, samba, zamba e ritmos caribenhos. Há nele, em Zeros, uma síntese da universalidade de Badia. As mesclas de gêneros, os países que nos circundam, os que estão lá adiante de repente se encontram em complexas harmonias criadas pelo compositor. Seus arranjos, elaborados em esmero e talento, carimba o trabalho solo, o primeiro, com extremo virtuosismo. Se quem gosta do Delicatessen, por certo haverá de gostar de Carlos Badia, mas não tente juntar os dois ao mesmo tempo. O disco de Badia tem vida própria, e abraça o ouvinte com toda a sua sensibilidade.

Rodolfo Mederos & Nicolas “Colacho” Brizuela: Tangos

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A música que vem do jazz e do blues, cuja matriz é africana, verte pelos poros dos instrumentistas do mundo. E gera frutos infinitos. Aqui na América do Sul uma gama de influências a partir da conquista do território, e a custo desumano e injustificável de crimes contra a humanidade como saques da cultura, genocídios e escravatura – para ficar nesses três – inseriu no espectro cultural de nossos países a formação de novos ritmos, novos jeitos de tocar instrumentos além da introdução natural de novos instrumentos. Bom, tudo isso para dizer que músicos de tango também, tempos depois, para além das vivências dos bairros portuários e outros ambientes de Buenos Aires, não se fixaram tão somente nas estruturas convencionais de então. Ao longo do tempo, com a quebra dessa estrutura, em especial por Astor Piazzolla, os instrumentistas característicos do gênero não eram apenas autodidatas, se não que estudavam ou com músicos consagrados ou em escolas de música. E no currículo estava o jazz, que Piazzolla já mesclava ao tradicional. Não foi diferente com o bandoneón de Rodolfo Mederos e com o violão de Nicolas Brizuela. Se Mederos possui uma trajetória mais ligada as orquestras, independente de seu trabalho solo, como a do mestre Osvaldo Pugliese e parcerias importantes com Mercedes Sosa, Luis Alberto Spinetta e até mesmo com o catalão Joan Manuel Serrat. Por outro lado, “Colacho” Brizuela se consagrou como violonista de Mercedes Sosa, desde que gravou com La Negra Mercedes canta Atahualpa Yupanqui no já distante 1977. E, naturalmente, participações em diversos trabalhos em especial com o jeito peculiar de tocar violão e interpretar o folclore argentino. Dessa união, nasceu um disco memorável: Tangos. Um repertório clássico e de compositores que não aparecem em uma primeira lembrança para quem não conhece tango. Um disco instrumental. Bandoneón e violão. Para ser ouvido, escutado, e se deixar levar por suas texturas suaves e reveladoras dos mais secretos tesouros das harmonias que permaneciam escondidas em algum lugar do tempo passado.

Luciana Souza: The Book of Chet

Luciana Souza

Discos homenagens são sempre uma surpresa. Tanto pode ser agradável quanto pode ser o oposto. E nem se trata de superar o original. Não, absolutamente não. Até porque superar Milton Nascimento, por exemplo, é muito mais que um exercício, é muito mais que um esforço que beira ao sobrenatural. Milton é Milton assim como qualquer artista é o que é pelo que soube construir em sua vida. Isso significa que trabalhos voltados à homenagens são destituídos de originalidade ou são inválidos? Mais uma vez o “não, absolutamente não” entra em cena. A brasileira Luciana Souza, cantora de matriz jazzística com menos sabor picante e mais introspecção nas teias do trompetista e cantor Chet Baker, em The book of Chet, cuja história de vida é uma história e tanto. Rende muito mais que discos. Todavia, o talento de Baker é inegável assim como Luciana penetra nessas harmonias com intimidade. E é nela, nessa intimidade, que sua voz vai construindo um outro tipo de intimidade: a nossa. Ao não escolher tão somente os clássicos de Chet, a brasileira conquista um espaço mais amplo entre os apreciadores da música de Yale. Afinal, para quem esteve ao lado de Charlie Parker, Gerry Mulligan e o lendário Stan Getz, a história reserva lugar cativo. Seu jeito econômico e ao mesmo tempo repleto de improvisações criaram um amplo espectro de possiblidades melódicas, que soube explorar como ninguém. E se o nosso olhar for mais atento vamos encontrar pontos muito comuns a Bossa Nova. Seriam os nossos compositores recebido influência de Baker? Ou será que foi o contrário? Questão em aberto, isso por certo pouco importou para Luciana, que vive mais fora do Brasil que em terras brasileiras. E o jazz é sua companhia fiel. Gravou com nomes expressivos do gênero como Hermeto Pascoal, Romero Lubambo,Kenny Werner, John Patitucci e Herbie Hancock, além de flertes explícitos com o folk de Paul Simon e James Taylor. A paulista não se intimidou e ancorada pelo marido, o produtor Larry Klein, e com um trio formado pela guitarra de Larry Koonse, o baixo de David Piltch e a bateria de Jay Bellerose, mergulhou nas músicas escondidas do norte-americano. E o disco mostra uma intérprete segura, sensível e capaz de revelar toda a magnitude da obra de Chet Baker seja em canções mais reflexivas ou em canções descontraídas. Luciana Souza pode fazer do domingo um dia de música que tranquiliza as aflições do cotidiano. Aqui, logo abaixo, uma “pequena” coletânea com Luciana.

Stanley Jordan: Cornucopia

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Stanley Jordan é um virtuose. Basta ouvi-lo e o mundo se transforma. Quem o ouve também. O guitarrista é mais que um instrumentista clássico por formação. Para além dos bancos da academia, as ruas forjaram sua forma de tocar guitarra. Quem sabe, a melhor escola. Do rock e do soul para o jazz e o jazz fusion foram poucos passos. O talento, sempre o mesmo. Melhor, em crescimento constante. Todos os seus discos são vertentes maduras, ora águas tranquilas ora revoltas que a criatividade instiga. É um instrumentista que se vale e muito da técnica. E em sendo técnico abre mais espaços para desenvolver o jeito único de toca. Com o tapping – consiste em uma ou duas mãos para “martelar” na escala do instrumento, ligando-as, adquirindo efeito de grande velocidade – revolucionou a música instrumental. E a ela aliou várias influências, inclusive a brasileira, a caribenha e por aí segue. Uma guitarra cujas harmonias nos fazem criar harmonias dentro de nós mesmos.

Charlie Haden: The Montreal Tapes

Charlie Haden

Se Nelson Rodrigues certa feita afirmou que toda unanimidade é burra a frase não se aplica a Charlie Haden. Mais que ser unânime, o contrabaixista fez escola em suas linhas melódicas de baixo, tornando-o não apenas um compositor mas um instrumentista dos mais requisitados em vida. Perdemos Haden em 2014. todavia, é um músico que permanece muito rico e vivo dentro de cada canção sua ou que participa que ouvimos. o contrabaixo único. E Charlie foi de uma versatilidade visceral, o que comprova seu talento. A grande maioria o identifica com o jazz, e com razão. Se olharmos um pouco mais fundo em sua biografia, vamos encontrar passagens no universo country, folk, outros gêneros tão distintos como os africanos, latinos e fez a sua estrada também em posições políticas fortes sempre a favor do humanismo e da humanidade. Gravou com Egberto Gismonti e Jan Garbarek o fabuloso Folk Songs, e à lista pode-se acrescentar Joni Mitchell, Ricky Lee Jones, Keith Jarrett, Ornette Coleman, o pianista cubano Gonzalo Rubalcaba, Plastic Ono Band – Yoko Ono -, Paul Motian, Carla Bley e Pat Metheny entre tantos mais. No Festival Internacional de Jazz de Montreal de 1989, tocou com o trompete de Don Cherry e a bateria de Ed Blackwell. Um disco extraordinário. Sensitivo. Puro. Um disco Charlie Haden de ser. Abaixo, Haden e suas canções e interpretações em vários momentos.

Eric Clapton Guitar Festival: Crossroads

Crossroads

O nome Eric Clapton dispensa toda e qualquer apresentação. Tem vida própria, fala por si ao natural.  está presente na História da música assim como está presente em festivais e shows de grande relevância social. Crossroads está inserido em sua vida. Desde 1999 reúne os maiores e melhores guitarristas do mundo em torno do Centro de Tratamento de Drogas. Um trabalho admirável acolhido pelos instrumentistas e músicos de todos os estilos, técnicas e gêneros. No palco, que pode ser Madison Square Garden ou o Toyota Park, por exemplo, eles se revezam em atuações assombrosas e desfilam uma integração não apenas musical. Há um elo que os une, além do show beneficente, que uma textura de harmonias e melodias irresistíveis para que ouve cada uma delas. Nomes como JJ Cale, BB King, Zakir Hussain, Steve Vai, John Mayer, Joe Walsh, Jonnhny Winter, Robert Cray, Keith Richards, ZZ Top, John McLaughlin, Carlos Santana, Albert Lee, Bo Dyddley, Vince Gil, Buddy Guy, Jeff Beck, Willie Nelson, Los Lobos, Andy Fairweather Low, Taj Mahal e uma infinidade de outros tantos abraçam o show, o público, a causa e cada canção é algo extraordinário de ouvir com devoção. São artistas que assumem-se como pessoas. E o talento e a sensibilidade ultrapassam todos os limites e fronteiras e todos nós somos presenteados com performances inesquecíveis.

Sting: Nothing Like the Sun

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Sting, ao sair do The Police, tem sido produtivo e desenvolvido sua criatividade em fases bem definidas. Nem sempre o resultado alcança todas as estrelas possíveis, mas deixa marcas. Nothing Like the Sun é um álbum curioso. Não nos gêneros em que flerta de forma explícita – jazz e rock – mas pela repercussão. Lembro de ter lido em alguma revista, o nome perdeu-se há muito em minha memória, de encontra-lo em um lista dos piores discos de todos os tempos. E olha que na relação estava trabalho dos Beatles. No entanto, como tenho lá minhas reservas quanto a listas, ainda mais de melhores ou piores, eu sempre gostei desse Sting despojado. E em particular esse tem o crivo da sua participação pelas América do Sul com a Anistia Internacional e momentos confessionais, em função da partida de sua mãe. Um trabalho emotivo, para dentro. E também que coloca as coisas em lugares, como em “They dance alone”, em função à época ainda os reflexos da ditadura chilena de Augusto Pinochet. E as composições ganham muitas conotações a partir de seu sentimento interior e os acompanhamentos atestam o quanto Sting acerta em Nothing. Algumas músicas, como “Fragile” foram também, não neste disco, cantadas em língua portuguesa ou em espanhol. Nomes como Mark Knopfler, Eric Clapton, Ruben Blades, Dil Evans, Manu Katché, Branford Marsalis, Mark Egan, Andy Summers e outros mais asseguram a qualidade e o peso das canções. Sério, comprometido, afetivo e consciente, Sting produziu uma obra sensível e próxima da realidade de então.

Willie Nelson: Stardust & American Classic

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Willie Nelson, para muitos, faz seu caminho pelo country. Por um competente e talentoso country. Não deixa de ser verdade. O texano de 82 anos, no entanto, desatou esse nó do gênero em 1978 ao gravar Stardust. O que poderia ser improvável, aconteceu. É um divisor de águas em sua carreira. Ao passar para o lado de lá de Nashville e se entranhar na linguagem do jazz, Nelson revelou ser um intérprete superior. E ainda mais ousado por colocar o nome de Hoagy Carmichael e Irving Berlin, por exemplo, com seus standards consagrados no universo do country norte-americano.  E como todo criador que ousa, partiu para experimentalismos no blues e no gospel. Além de incursões no cinema, e em outras expressões da cultura. Se Stardust já parecia distante, Willie volta à estrada dos clássicos. American Classic o coloca em um nível ainda mais denso e a presença de Norah Jones e Diana Krall consolida seu status no jazz. Com o jeito Willie Nelson de ser, naturalmente. O mais impressionante é a naturalidade com que movimenta e parece ser talhado ao jazz. Mais tarde, fez com Wynton Marsalis um disco à semelhança de American com resultado mais que positivo. Curioso é que Eric Clapton, de alguma forma, seguiu esse caminho com BB King, embora aí esteja o blues e o blues é Clapton, e com o próprio Marsalis e também com a mesma naturalidade. Talentos assim não possuem fronteiras. E nos mostram e ensinam o quanto nós também não devemos ficar fixados em rótulos e fantasias comerciais passageiras. Essa viagem com Nelson é magnífica.