Nina Becker canta Dolores Duran

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Dias de inverno acolhem-nos em nosso dentro. A imagem da introspecção contraria os dias de sol e cores que a estação oferece. Uma viagem para além do dentro. Uma viagem para ser, uma viagem para estar, uma viagem para viver. O tinto seco aquece os olhos, fogo da estrada. Um universo multifacetado de tantas possibilidades e sonhos a serem realizados. Clima para ser. Nina Becker canta Dolores Duran é um disco ensolarado. Está certo que Dolores viveu intensamente o amor, as dores, a boemia e cantou a vida com toda a força da vida. Nina traz para si esse cantar repleto de sentido e significado para muito adiante da simples introspecção. O coração bate descompassado, é feliz, sofre, sente angustia, sorri, e descobre que o amor é sempre possível. Não existe distância que o impeça de ser. Em cada canção, Nina revela esse ser. Compassos de voz, bandolim e violão acompanham o dentro que é maturado no inverno para florescer logo ali, com a urgência sem pressa dessa vontade sem fim que se entrelaça nessa estrada. Um disco magnífico de uma cantora que dá vida e forma às estações que nos habitam todos os dias na “Estrada do Sol”.

Miniconto XXI: Coroas de Cristo

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Coroas de Cristo

Os vincos nas costas doíam. As mãos não alcançavam o dorso. Sentia crescer, entre a pele e a carne, finas camadas de coágulos. O corpo curvou-se, os ossos estalaram. Ao encontrar o chão, descobriu Coroas de Cristo. Os espinhos avermelhados recolheram-se, deixando tesa e acinzentada a retina envelhecida.

No outro lado da rua, as janelas fecharam-se, os vizinhos retornaram às suas tramas caseiras.
O inverno é apenas um dos quatro cantos do Tempo.

(Promessas do Sol – Milton Nascimento/Fernando Brant)

Fotos e montagem: Chronosfer