O primeiro olhar é suficiente pra afirmar o quanto a foto acima é comum, sem estética, com equívocos técnicos, vazamento de luz, reflexo acentuado à esquerda de quem olha, uma névoa ao fundo, distorcendo o horizonte. Enfim, uma foto sem nenhum atrativo. No entanto, a foto mostra é a vista que Pablo Neruda vivia todas as manhãs do seu quarto. proibido de fotografá-lo (o quarto), restou a imagem do Pacífico chegando à praia íngreme de Isla Negra, onde descansa o poeta. O dia em sua casa próxima a Valparaíso, no Chile, é um daqueles momentos em que o mundo para de girar e os sentidos se ajustam aos movimentos das águas e das cores. Neruda mais que Nobel de Literatura, foi um homem engajado em favor da humanidade e da justiça. Um homem que fez da poesia seu canto. E também o nosso canto. Confesso que vivi nos momentos em sua casa uma vida inteira. E a poesia cresceu como fruto até amadurecer dentro de mim.
El viento en la isla
El viento es un caballo:
óyelo cómo corre
por el mar, por el cielo.
Quiere llevarme: escucha
cómo recorre el mundo
para llevarme lejos.
Escóndeme en tus brazos
por esta noche sola,
mientras la lluvia rompe
contra el mar y la tierra
su boca innumerable.
Escucha como el viento
me llama galopando
para llevarme lejos.
Con tu frente en mi frente,
con tu boca en mi boca,
atados nuestros cuerpos
al amor que nos quema,
deja que el viento pase
sin que pueda llevarme.
Deja que el viento corra
coronado de espuma,
que me llame y me busque
galopando en la sombra,
mientras yo, sumergido
bajo tus grandes ojos,
por esta noche sola
descansaré, amor mío.
Poema capturado no site: http://www.neruda.uchile.cl
Livro: Los Versos del Capitán, coletânea, 1993
Editora: Seix Barral