Listas de melhores, piores ou de mais ou menos não me atraem em anda. Às vezes, cedo à tentação e listo como fiz em post mais lá atrás em relação a dois shows acontecidos em Porto Alegre. Um que não assisti, outro que ensolarou a noite da capital gaúcha. Agora, o jornal Zero Hora em sua edição de sábado – 03.01.2015 – traz a relação dos melhores discos do ano que passou. Oito jurados repassaram o ano, cada um com seus critérios e escolhas. Dois deles, Juarez Fonseca e Paulo Moreira, conhecedores profundos de música e jornalistas do primeiro time de críticos musicais. Os outros seis também são respeitáveis e conceituados críticos. Então, a partir de suas indicações, estavam lá discos que habitam a minha cedeteca: Leonard Cohen, André Mehmari, Charlie Haden, Pat Metheny, Jorge Drexler. Não que eles tenham feito as mesmas escolhas, não absolutamente não. A soma delas é que constrói um importante painel, que junto com os demais críticos, forma um outro mosaico de importantes trabalhos musicais. E ficou com a láurea de melhor do ano um disco que, confesso, fui adiando comentar por aqui. Talvez por estar eu em uma fase demasiada folk. É possível. Mônica Salmaso e o seu deslumbrante Corpo de baile cruzou a linha em primeiro lugar. Com sobras. Há muito Mônica vem criando um espaço único e próprio em nossa música popular. (Para mim, a melhor do Brasil nos dias de hoje.) Espaço sem concessões para devaneios oportunistas. Ao contrário, centrada e sobretudo talentosa e de extrema sensibilidade, o caminho que percorre é de tamanha solidez que qualquer um dos seus dez discos lançados são daqueles que catalogamos como essenciais. Tudo nela é assim, essencial. Por vezes, quase minimalista, Alma Lírica é um trabalho pleno em sua voz é acompanhada pelas flautas e sax de Teco Cardoso e o piano de Nelson Ayres. Precisaria mais? Basta ouvir para a resposta ser não. Tudo se completa, se encaixa, se desenvolve em uma atmosfera intimista e profunda que nos surpreendemos dentro dessa atmosfera.
O mais interessante é que Mônica nunca foi inserida no contexto das cantoras mais populares. A razão mais razoável para isso talvez seja o seu repertório refinado e arranjos que exploram o semiacústico ao máximo, dando vez sempre aos seus timbres de voz e um jeito mais para música de câmara do que música para se ouvir em rádio. Há então uma conjunção de fatores que a ligam a essa linha que beira o erudito que a torna um instrumento capaz de unir sonoridades sejam elas mais eruditas ou mesmo mais populares (Afro Sambas com composições de Baden Powell e Vinícius de Moraes) até atingir quem sabe o ápice com Corpo de baile com composições de Guinga e Paulo César Pinheiro. Nele, o disco, estão canções de vários de nossos períodos musicais, inéditas ou pouco conhecidas. Convém lembrar que Salmaso grava em participações especiais com vários outros artistas, entre eles Chico Buarque, e em projeto especiais. O repertório é tão vasto e criativo que contempla o fado em “Navegante”, indígena em “Curimã”, valsa em “Noturna” e escalou um grupo de arranjadores excepcionais do calibre de Dori Caymmi, Tiago Costa, Teco Cardoso e os instrumentos não ficam por menos: violão, viola caipira, piano, cordas, sopros, banda de sopros, baixo acústico e percussão. Mônica celebra a música e nos convida a participar. Não podemos ficar de fora.
https://www.youtube.com/watch?v=jBSsNjg9LYU&list=UU0MFq331Z7_CoSFimP84Mbw
https://www.youtube.com/watch?v=IlXHzRhPh3I&list=PLjMk_448Pd1PUvatNWzkrwJA_9ogsB6Ej&index=2
https://www.youtube.com/watch?v=nKzqDzylQXs&index=1&list=PLjMk_448Pd1PUvatNWzkrwJA_9ogsB6Ej
Fotos : Capa do cd: Dani Gurgel. Mônica Salmaso: http://www.g1.globo.com
Vídeos: http://www.monicasalmaso.mus.br