Eric Clapton & Steve Winwood: Live From Madison Square Garden

eric&steve

Ambos são amigos de longa data. Sempre estiveram um no caminho do outro e o percorreram juntos algumas vezes. Buscar o passado deles é como jogar água na chuva. Não é necessário, basta lembrar que estiveram no Blind Faith e tudo fica mais claro. Sem chuva, claro. E muito sol. Final da primeira dédada dos anos 2000 se reuniram no Madison Square Garden e realizaram show que se transformou em registro ao vivo. 21 canções que vasculham suas carreiras, suas influências, as bandas em que tocaram – Cream, Traffic, por exemplo -, trabalhos solos, blues, JJ Cale, Buddy Miles, Otis Rush, Jimi Hendrix. É pouco? Nem pensar. Os clássicos como “Cocaine”, “Glad”, “Little Wing”, “Voodoo Chile” e “Presence of the Lord” parecem ter saído do forno criativo de ambos hoje. O que pode, em um primeiro momento, soar pesado aos ouvidos na verdade chega com suavidade e intensa entrega de Clapton e Winwood. O clássico dos clássicos “Georgia on my mind” desliza no player com emoção. Justa homenagem a Ray Charles. A alquimia entre os velhos amigos se mantém intacta. A banda de apoio é magnética e sustenta com talento o virtuosismo da guitarra e do piano de Eric e Steve. está certo, não um disco que você vai ouvir a todos instante. Não é necessário. Basta tê-lo e de repente lá está ele no seu player. E você se deixando levar por dois dos maiores músicos de todos os tempos com a tranquila sonoridade que já é história. Pode ser também a sua história.

Eric “Forever Man” Clapton

Eric

Mais uma dessas compilações ou coletâneas que abraçam períodos da carreira de um superstar, talvez de toda a trajetória, pinçando aqui e ali canções de sucesso com outras de significado e muitas sem nenhuma repercussão maior. Apenas tem a assinatura do astro. Forever Man não traduz de forma alguma Eric Clapton. O nome do álbum – que pode ser duplo ou triplo em sua edição de luxo – faz justiça a Eric, que um dia viu seu nome grifado nos muros e paredes de Londres como Deus, da guitarra. Época do Cream, com Jack Bruce e Ginger Baker. Ou será do Blind Faith? O disco triplo pode ser dividido em Blues, Ao Vivo e Estúdio. Confesso que ao escutar cada um deles, claro que há passagens maravilhosas, não consegui me conectar com o todo que é apresentado. A clássica “Tears in heaven”, por exemplo, e não lembro de que disco é a gravação que está nesse, é inferior ao que ele apresenta no Guitar Festival Crossroads. Há uma incômoda guitarra na canção, quando, isso para mim, apenas ao violão a sonoridade é mais sincera, mais honesta, mais sensível. Outros clássicos desfilam, as parcerias com BB King e J.J. Cale também, e estão nelas quem sabe o melhor dos três cds e nas passagens ao vivo mais consagrados hits como “Badge”, “White Room”, “Sunshine of your love”, “Wonderful tonight”, “Layla” e “Cocaine”. Para ficar apenas com essas. Parece-me que a ideia de apresentar aos admiradores de Clapton um painel mais vivo e intenso de sua obra se transformou em um todo sem unidade tanto quanto as performances que se diluem a cada faixa tocada. Um disco duvidoso,  apenas para ser de coleção e caçar níquel à gravadora. Mr. Clapton não merecia isso.

Ian Anderson: Twelve dances with God

Ian

A longa lista que faz parte de “minha vida” musical possui nomes que realizam fora dos seus grupos, antes durante ou depois deles, trabalhos relevantes. Ian Anderson, a flauta mágica do Jethro Tull, é um desses nomes. Cito, de passagem, o baterista Ginger Baker. Integrou o power trio Cream, que tinha Jack Bruce no baixo e Eric Clapton na guitarra. Baker produziu álbuns fantásticos na África, e algum dia estará por aqui. O Anderson é uma figura carismática, talentosa e inquieta. Dono de excepcional performance à frente do Jethro sempre foi capaz de canalizar sua criatividade para além dos sopros. Sua magia é ser justamente inquieto. Em Divinities: Twelve dances with God com Andrew Giddings cometeram uma pequena obra-prima. São 12 faixas instrumentais influenciados por diferentes tradições musicais étnicas: Celta (“In the grip of stronger stuff”), espanhola (“In the pay os Spain”), africana (“En Afrique”) e outras que remetem a orações (“In a stone circle”) e sentidos e significados para além das sonoridades e ingressando na espiritualidade. É um disco denso e também suave. Capaz de transformar os instrumentos como parte do próprio espírito do todo que se cria e se renova. Inspirador e forte, Ian Anderson é uma mago da cores sonoras e faz de cada canção um motivo para celebrar a vida. (Abaixo, o disco na íntegra.)

Odessa: the best of Bee Gees

Odessa

A década de sessenta apresentava seus primeiros sinais de estar próxima do fim, quando os Bee Gees lançam Odessa. Disco em que estão presentes várias nuances do grupo, em especial as diferenças entre Barry e Robin Gibb. Diferenças essas que tiveram como consequência a longa separação do dois irmãos e apenas Maurice permaneceu ao lado do Gibb mais velho. No entanto, é demasiado simplificado lançar apenas esse olhar sobre Odessa. Trata-se, sem dúvida alguma, do melhor Bee Gees, muito antes de suas outras fases e formações alternarem-se entre sucessos e alguns fracassos. O disco de 1969 apresenta uma variedade de gêneros e ousadias musicais que o tornaram, para a época, mais que um conceito e sim um trabalho de extrema consistência harmônica e vocal. Arranjos com base orquestral e muito acústico levaram o álbum duplo a alcançar se não o alto número de vendas e sim o alto grau de notas para a sua qualidade. Os irmãos estavam mais que inspirados. Souberam introduzir em suas composições elementos do country, do rock progressivo, do clássico, dos bluegrass, do rock excêntrico, incidentais do Cream – banda que abriu vário seus shows, em seu início de carreira, e que era composta por nada mais nada menos que Eric Clapton, Jack Bruce e Ginger Baker – e as eternas baladas. No repertório que contempla todas essas relações e influências destaque para a canção título “Odessa”, com suas variações com violão acústico, violoncelo solo e orquestração, “Melody fair”, que está na trilha do filme Melody, a emblemática e bela “First of May”, a enraizada “Marley purt drive”, a irônica “Give your best”, as instrumentais “Seven seas symphony”, “With all nations” e “The British Opera”, as também baladas “Sound of love” e “Lamplight”, a complexa e belíssima “Black Diamond”, as suaves “Never say Never again” e “Edison”, e quando percebemos estás quase todo o disco com destaques alinhados em tantas razões que muitos críticos o colocam como uma espécie, guardadas as proporções, de Sgt. Pepper dos Beatles. Poucos anos atrás foi relançado, junto com Odessa alternativos, takes não gravados ou com arranjos não aproveitados, versões descartadas. Um registro valioso.
Se Odessa não é visto como um trabalho conceitual dos Bee Gees pode ser visto sem nenhum medo ou susto como o seu melhor disco. Para ser escutado aos poucos e com a suavidade que ele merece e que todos nós merecemos.

http://www.youtube.com/watch?v=oom7tcOYTmo

Perdemos Jack Bruce

jackbruce

A morte de Jack Bruce nos deixa mais embrutecidos. Mais tristes e vazios. Aos 71 anos, por problemas hepáticos – ele havia há anos feito transplante de fígado – o escocês de Glascow nos deixou. A história do rock, da música tem o seu nome gravado em letras maiúsculas. Nos anos 60 formou com o guitarrista Eric Clapton e o baterista Ginger Baker talvez o maior trio que já existiu. Lembro que justamente lá pelos anos sessenta, uma revista norte-americana escolhera os melhores instrumentistas do ano. Os três, que se chamavam Cream, fora, escolhidas em seus instrumentos. o baixo de Jack era extraordinário, dava um ritmo e uma densidade a cada música sempre com a sua criatividade reinventando arranjos e solos únicos. E pensar que certa feita, esse Cream fantástico, empresariado por Robert Stigwood, o mesmo dos Bee Gees, fazia com que abrissem os shows dos irmãos Gibb.

Se 1968 foi emblemático em todos os sentidos, o anos que nunca terminou e não terminará, por essas coisas da vida, foi o ano do fim do Cream. Composições clássicas como “I feel free” e a híper “Sunshine of your love” são inesquecíveis. Assim como o disco Weels of fire ou os seus shows de despedidas.

A carreira solo de Bruce não foi bem sucedida como no tempo do Cream. porém, fez a música que gostava de fazer. Com um quê de jazz e blues, sempre inovando e criando, deixa marcas profundas. Esteve em Porto Alegre com a sua Big Blues Band em 2012 – não assisti!.jackbruce_2

Abaixo, um pouco do trabalho único e fantástico de Jack Bruce.

www.youtube.com/watch?v=OUo3Nv7k4R0

www.youtube.com/watch?v=U0cTwy_p8fU

www.youtube.com/watch?v=3OcOTzVARDA

Fotos: Reuter/Brendan McDermid.