“A partícula cósmica que navega meu sangue é um mundo infinito de forças siderais. Veio a mim sob um largo caminho de milênios, quando talvez fui areia para os pés do ar. Logo fui a madeira, raiz desesperada submersa num silêncio de um deserto sem água. Depois fui caracol, quem sabe onde, e os mares me deram a primeira palavra. Depois a forma humana derramou sobre o mundo a universal bandeira do músculo e da lágrima. E cresceu a blasfêmia sobre a velha Terra, o açafrão, o “tilo”, a copla e a “piegaria”. Então vim a América para nascer um homem e em mim juntei a selva, os pampas e a montanha. Se um avô da planície galopou até meu berço, outro me disse histórias em sua flauta de “cana”. Eu não estudo as coisas, nem pretendo entende-las. As reconheço, é certo, pois antes vivi nelas. Converso com as folhas em meio dos montes e me dão suas mensagens as raízes secretas. E assim vou pelo mundo sem idade nem destino, ao amparo de um cosmos que caminha comigo. Amo a luz, o rio, o caminho e as estrelas, e floresço em violões porque fui a madeira.”
Tempo do Homem – Atahualpa Yupanqui, tradução de Dércio Marques.
Foto: capturada no Youtube
Nossa. Esse texto é simplesmente incrível… Li e reli… Deu vontade de decorar, só pra recitar incansavelmente. As músicas atravessam.
Um abraço Fernando. Aliás, dois. Pela belíssima escolha de hoje. Coisa comum por aqui…
As palavras de Dom Atahualpa nos deixam sem palavras. A música, bom : fechar os olhos e deixar que as harmonias nos levem. meu abraço.
Texto fantástico!!!
A obra de Dom Atahualpa é toda ela fantástica. Obrigado por estar aqui. Meu abraço.