A água rápida dos recantos toca os cascos. Os raios brilham, as nuvens secas ganham a cor da noite. O horizonte é uma cruz distante. No fim do dia o começo. As peles e os pelos se confundem na umidade dos cheiros, na aspereza das mãos, no corte trançado das rédeas. Dentro do dentro uma outra noite. A memória ainda é tênue. O destino é um velho signo cujo código se perde no laço da própria sorte. Antes, muito antes, quando a tarde ainda era um pedaço, os velhos queimaram o fumo. Depois, pouco depois, quando a luz cinza listrou os campos, as unhas da terra se entranharam pelos atalhos. A planície sem fim assombrava suas histórias. Os potros, vultos velozes, chegam ao verde, sentem a dor da lida e o sangue dos movimentos. Retornam vivos, a doma é passado. A marca dos estilhaços é o que resta na memória. Saem de dentro da ausência, correm para a margem desse rio. Chegam nas entranhas das lembranças, se livram de todos os arreios. A liberdade é mais que uma poça d´água onde os cascos escondem as feridas de suas andanças de um tempo que hoje é apenas um braço de terra seca.
Homenagem ao meu pai, Mario Rossano.
Foto: arquivo Mario Rossano, ao vencer a primeira prova disputada no Hipódromo do Cristal, com Duelo, em novembro de 1959.
Que texto sensacional Fj … não sei nem o que dizer. Poesia pura.
A F F F F F.
Foram três ou quatro textos com o mesmo tema: os cavalos, o pampa, os tambós, a memória. Se encontrares pelo blog A estação lê. Obrigado pela força, Cris. A C C C C C C.
você… sempre me faz sorrir…