Nossos encontros foram como as estações. Aconteciam em seu tempo. Sem pressa. Do jeito Giba Giba de ser. Por vezes, e tantas vezes aconteceu, esses momentos se tornaram mais raros. Eu, editor, poucas reportagens na pauta, livros à mesa, gráficas, autores, provas. A vida em cada página, dia após dia. Ele, sopapo pelo mundo. Filosofia em cada palavra, em cada batida, em cada verso, em cada ritmo. Outro Um nasceu assim, estação e fruto maduros. Tive a felicidade de estar com ele no seu lançamento e divulgação. Quase sempre, ou sempre, atrasado, uma conversa aqui, outra ali, um almoço mais demorado na Cidade Baixa, as histórias se confundindo uma com as outras. E o sorriso denunciando a alegria de ser Giba Giba. Logo depois, então repórter da Revista Porto&Vírgula, a pauta chegou ao natural: o disco do Giba. Sentados em uma das mesas do bar do Centro Municipal de Cultura, gravador ligado, faltou fita. A conversa correu solta, leve, profunda, densa, com a intensidade própria de Giba Giba. E veio o problema: meu espaço era de apenas duas páginas. E nada mais. Escrevi com o sentimento de estar faltando muito. E a surpresa tão logo a publicação circulava pela cidade. Ele me procurou e não apenas agradeceu, mas teceu tantos elogios que ainda não cabe dentro de mim o que senti. E todas as vezes em nossos encontros, a palavra dele começava com a matéria que eu havia escrito. Em silêncio, ficava feliz. Muito.
A tarde quente e absurda desses últimos dias de janeiro penetrou fevereiro com mais força. Passando pelas notícias da internet estava lá o anúncio da morte de Giba Giba. Estático, li, reli até que me convenci que era verdade. Gilberto Amaro do Nascimento decidira partir. Não sei mensurar sua perda. Ele é muito maior para que eu possa pensar em perda. Passei para o player Outro Um. E o abraço espontâneo partiu de ambos. Perdemos Giba Giba. Nossa realidade mais próxima. A de todos os dias, é a sua presença com seus tambores a nos lembrar da vida que temos que seguir. Como ele sempre fez. Com sabedoria.
Reproduzo, em sua homenagem, a matéria feita com ele em Porto&Vírgula nº11 de dezembro/janeiro de 1992/93.